segunda-feira, 19 de maio de 2014

Medicamentos podem provocar reações alérgicas

O processo de desenvolvimento de um medicamento envolve meticulosos estudos e testes de investigação da qualidade e da segurança antes da comercialização, de modo a garantir os efeitos desejados ao usuário final. Entretanto, o número limitado de pessoas em que se testam os fármacos pode não ser um representativo fiel da população como um todo. Isso ocorre devido ao direcionamento do uso aos portadores da doença a que o fármaco-teste se aplica especificamente. Assim, algumas reações alergênicas ou tóxicas, bem como interações com outras substâncias (típico na condição de quem faz uso de muitos fármacos, comum, por exemplo, na terceira idade) podem não ter sido contempladas.

Uma vez lançado comercialmente, como todo produto, há intensa movimentação para enaltecer o produto como inovador e a indústria produtora como grande empreendedora. Este medicamento é divulgado como moderno e de “última geração”, ressaltando-se em demasia suas vantagens terapêuticas. Com o passar do tempo, evidenciam-se os eventos adversos de seu uso, de algum modo esperados pelo meio científico, mas não detectados no processo de licenciamento. Aquele que é conhecedor desse processo não se abala com algumas “denúncias” que surgem na tentativa de apresentar o medicamento como um “veneno” e que podem marginalizar o uso desses medicamentos.

Exemplo disso é a divulgação de uma série de reportagens por parte de uma conhecida revista, a partir do ano de 2006, que introduziram os incretinomiméticos como uma inovadora ‘arma’ no controle do diabetes, mas acima de tudo, apresentando o medicamento como uma alternativa no tratamento da obesidade. Essas reportagens potencializaram a comercialização ao ponto de não-diabéticos passarem a consumi-lo com o intuito inadequado de emagrecimento, trazendo à tona então crises hipoglicemiantes, problemas de tireóide, renais, hepáticos, entre outros. De fato, havia fundamentação científica para essa finalidade, porém não haviam estudos clínicos que autorizassem o uso. No mês de abril (último), a Anvisa lançou nota esclarecendo a ocorrência de pancreatite e câncer de pâncreas majoritariamente em usuários não-diabéticos, o quê novamente tornou esta classe de medicamentos manchete. Atualmente, ainda não há estudos clínicos que indiquem o uso para o controle da obesidade.

O importante a ser realçado é que a indicação para todo medicamento só acontece após testes apurados que apresentem a perspectiva real da relação entre o risco e o benefício que o uso da substância estudada apresenta. Também é importante insistir que sempre existirão riscos em decorrência do uso, mesmo para o mais tradicional dos medicamentos, portanto a opção por sua utilização se dará somente quando as vantagens da administração forem superiores as reações adversas . Analisar as vantagens e as desvantagens é papel do médico.

Uma vez lançado o medicamento no mercado, o seu uso é acompanhado por uma nova ciência denominada farmacovigilância, a qual é uma importante ferramenta a serviço dos usuários de medicamento, na avaliação de prováveis causalidades entre fármaco e reações adversas. Por seus instrumentos e estruturas há o monitoramento de falhas terapêuticas para a notificação de efeitos colaterais indesejáveis, na recém inserção do fármaco no mercado ou na constante revisão de sua eficácia. Você pode colaborar relatando quaisquer ocorrências a seu médico e farmacêutico.


Suzana Silva de Oliveira – 9º semestre do curso de Farmácia

Referências
ANVISA. Ministério da Saúde. Anvisa reforça esclarecimentos sobre medicamento Victoza. Brasília: MS, 2011. Disponível em:<http://portal.anvisa.gov.br>.

BRASIL. Ministério da Saúde. A vigilância, o controle e a prevenção das doenças crônicas não-transmissíveis: DCNT no contexto do Sistema Único de Saúde brasileiro. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2005.

CRF-SP. Dispensação em terapias com incretinas requer prescrição. São Paulo: CRF, 2014.

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