segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Anticoncepcionais e interações

Com a preocupação dos governos em realizar o planejamento familiar, amplia-se o acesso da população aos métodos anticonceptivos, sendo necessária a correta utilização, para proporcionar autonomia à mulher no tocante ao controle da natalidade, objetivando prevenir gestações indesejadas. Como consequência positiva, esse procedimento reduziria a busca por práticas abortivas ilegais e o inevitável prejuízo a saúde derivada desta violência ao organismo, além de todo o custo financeiro e social ao país. Assim, preservativos e contraceptivos, entre outros métodos, são disponibilizados gratuitamente em unidades públicas de saúde.


Os contraceptivos orais compreendem associação de hormônios sintéticos combinados de estrógenos e progestogênios ou simplesmente de progestogênios (ideal para lactantes), responsáveis por inibir a ovulação e dificultar mecanicamente a fecundação do óvulo, por espessamento do muco cervical. É importante se ressaltar que este método previne somente a gravidez, sendo obrigatório o uso de preservativos para prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, como AIDS, sífilis, gonorreias, entre outras.

A tomada correta dos contraceptivos orais é diária, com início do primeiro ao quinto dia do ciclo menstrual. Alguns anticoncepcionais disponíveis ao público apresentam 28 comprimidos, para se garantir um tratamento contínuo e ininterrupto, sem chances de esquecimento. Porém, normalmente, as últimas sete unidades não contêm hormônios, sendo destinadas à pausa necessária da administração da substância Outras apresentações contêm 21 comprimidos hormonais que devem ser administrados diariamente e então descontinuados por sete dias, com início posterior de uma nova cartela. A terapia contraceptiva oral, com ciclos de uso de medicamentos, procura mimetizar um ciclo menstrual de 28 dias, semelhante ao teórico esperado. Sua eficiência depende da manutenção dos níveis plasmáticos dos hormônios, e por essa razão é extremamente importante atentar ao horário de administração do medicamento.

São necessários, no mínimo, sete dias de uso contínuo para se obter o efeito contraceptivo, razão de a utilização de preservativo ser necessária nesse período. Se a administração de um comprimido atrasar, deve-se tomar o tão logo quanto possível e o seguinte no horário habitual, porém, uma vez ultrapassadas 12 horas de atraso o efeito torna-se reduzido. Muitas concepções decorrem da irregularidade da tomada do medicamento ou da má absorção do fármaco devido à êmese ou por deficiências pré-existentes do trato gastrointestinal (como gastrenterite, colite ulcerativa, doença de Crohn), além de interações, que reduzem a concentração plasmática dos anticoncepcionais orais.

Mesmo que observadas as condições ideais de administração de anticoncepcionais, o uso concomitante de outros fármacos (vide tabela) pode reduzir a eficácia contraceptiva, possibilitando uma gravidez inesperada. Este fenômeno seria motivado pela interação por competição entre os fármacos durante a fase de metabolização. Não obstante a competição pela interação, diversos estudos demonstram perda da eficácia dos anticoncepcionais orais combinados quando administrados juntamente a terapia antibiótica, porque a sua atividade no combate a bactérias infecciosas acaba acometendo também a flora intestinal, responsável por uma relevante alteração molecular que torna o hormônio ativo para nova absorção.

                 Medicamentos que reduzem eficácia dos anticoncepcionais orais combinados
Antibióticos
Ampicilina, Amoxicilina, Tetraciclina, Rifampicina.
Antibióticos antirretrovirais
Nelfinavir, Lopinavir, Ritonavir.
Anticonvulsivantes
Fenobarbital, Carbamazepina, Oxcarbamazepina, Felbamato, Fenitoína, Topiramato, Vigabatrina.
Fitoterápico
Hipérico ou Erva de São João (Hypericum perforatum).
                Fonte: Revisão bibliográfica.

De um modo geral, os contraceptivos a base de levonorgestrel são contraindicados em hipersensibilidade a este hormônio, gestação, doença hepática grave, distúrbios hemodinâmicos, câncer de mama, história de hipertensão craniana idiopática, algumas doenças ginecológicas, histórico ou predisposição a gestação ectópica e actimicose genital, para pacientes com múltiplos parceiros ou condições associadas com o aumento da susceptibilidade a infecções bacterianas (leucemia, AIDS, etc.). O levonorgestrel deve ser usado com precaução quando há ciclo menstrual anormal, gravidez ectópica, icterícia, depressão, uso de lentes de contato, diabetes, retenção de fluidos, doenças autoimunes, durante terapia anticonvulsivante e anti-hiperlipidêmica.

SUZANA SILVA DE OLIVEIRA - 10º semestre do curso de Farmácia da UniSantos

Referências:
AMADO, L. R.; CARNIEL, T. Z.; RESTINI, C. B. A.. Interações medicamentosas de anticoncepcionais com antimicrobianos e álcool relacionando à prática de automedicação. Goiânia: Enciclopédia Biosfera, Centro Científico Conhecer, vol. 7, n. 13. 2011 Pág. 1451-65.

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CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA (CFF). Centro Brasileiro de Informação sobre Medicamentos (Cebrim). Nota Técnica Cebrim/CFF Nº 03/2009. Uso Racional de Contracepção Hormonal de Emergência. Brasília: CFF, 2009.

FERREIRA, J. C. L.. Planejamento familiar na unidade básica de saúde de Queimadas, Horizonte (CE): proposta de uma nova estratégia de atendimento em anticoncepção. Fortaleza, 2009. Projeto de intervenção submetido à Escola de Saúde Pública do Ceará, como parte dos requisitos para a conclusão do Curso de Especialização em Práticas Clínicas em Saúde da Família.

LUBIANCA, J. N.; WANNMACHER, L.. Ministério da Saúde. OPAS. OMS. Uso Racional de Medicamentos: temas selecionados. Uso Racional de Contraceptivos Hormonais Orais. Brasília: MS, n. 10, pág. 1-16, 2011.

POLI, M. E. H. (Dr.). Sociedade Brasileira de Reprodução Humana. Manual de Ginecologia. Anticoncepção. São Paulo: SBRH, [2012?].

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