quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Perigo de origem natural

 A despeito de sua origem natural, os chás podem ser nocivos à saúde. O conceito “natural” é usado com algumas reservas, de acordo com a legislação de propagandas, por incutir a falsa impressão de benéfico e inofensivo. Esta forma de terapia é milenar: existem registros de indicação que datam de 3000 a. C. Pesquisas indicam que 80% da população utiliza remédios naturais como medicina popular.

As plantas medicinais são aquelas capazes de aliviar ou curar enfermidades e têm tradição de uso como remédio em uma população ou comunidade. É imprescindível, no entanto que, antes de usá-las, se conheça a planta, sua correta indicação e procedência, e como prepará-la.

Muitos chás são adulterados e vendidos na forma triturada, com o intuito de inviabilizar a identificação a olho nu, como ato de má fé. Porém também são comuns equívocos em razão da semelhança anatômica. O boldo do Chile é raramente encontrado no Brasil, já sua variante nacional é abundante, mas não detém propriedades digestivas. Da mesma forma, a Arnica montana é típica de montanhas europeias.

Cada planta tem sua peculiaridade nos componentes, dentre os quais o princípio ativo. Aquele chá de hortelã, por exemplo, usado no tratamento de cólicas não pode ser consumido por pessoas que sofram com problemas hepáticos graves, nem durante a amamentação. A camomila, consumida em excesso, pode causar náuseas e insônia. O urucum tem propriedades antioxidantes conhecidas, porém durante a fervura libera toxinas. Gestantes devem consultar o médico antes de consumir essas bebidas, já que algumas plantas podem ser abortivas.

Atenção! As plantas medicinais não devem ser usadas em crianças menores de três anos, gestantes e lactantes. Como qualquer medicamento, o mau uso pode ocasionar problemas à saúde, como alterações na pressão arterial, problemas no sistema nervoso central, fígado e rins, que podem levar a internações hospitalares e até mesmo a morte, dependendo da forma de uso.

A SINTOX alerta sobre as 16 plantas que mais causam intoxicação no Brasil, dentre as quais são exemplos a ‘Comigo ninguém pode’, a urtiga e o ‘copo-de-leite’.

As plantas medicinais também possuem compostos químicos ativos que podem interagir com outros medicamentos. Um exemplo é o uso de Hipérico junto a anticoncepcionais podendo levar à gravidez, outro é o uso de Ginkgo biloba junto a anticoagulantes, como warfarina ou AAS, podendo promover hemorragias.

A medicina tradicional demonstra propriedade no tratamento de doenças, porém, deve-se tomar especial atenção à administração de chás. Estes são erroneamente indicados como isento de reações adversas, mas como todo medicamento, só deve ser usado quando os benefícios à saúde superarem os riscos.

SUZANA SILVA DE OLIVEIRA – 10º semestre Farmácia

Referências:
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Perguntas Frequentes: Medicamentos. Brasília: ANVISA, 2009 [?]. Acesso em: 26 nov. 2014. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br>.

BRASIL. Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo. Secretaria dos Colaboradores. Comissão Assessora de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Plantas Medicinais e Fitoterápicos. São Paulo: CRF-SP, 2011. 71 p.

SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES TOXICO FARMACOLÓGICAS. Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde. Plantas Tóxicas no Brasil. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2009. Acesso em: 26 nov. 2014. Disponível em: < http://www.fiocruz.br/sinitox/>.

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