
A farmacêutica Carla Lanza Belmonte, docente do curso de Farmácia da
UniSantos, explica que os principais fatores que merecem atenção ao comprar
plantas medicinais são conhecer a espécie – e identificar se é a correta – e
buscar estabelecimentos que forneçam laudos de qualidade. Em lugares como
feiras, por exemplo, não há garantias do laudo e nem da espécie adquirida ser a
que possui ação farmacológica.
Além disso, a professora explica que é necessária uma quantidade mínima
de princípio ativo para ter eficácia. E isso envolve diversos fatores, desde o
cultivo até a coleta e a secagem. “Realmente não funciona quando não usa a
espécie correta e um padrão mínimo de marcador, que é a concentração de
princípio ativo para exercer ação farmacológica”, destaca.
Segundo Carla, as plantas medicinais são consideradas, na hora da venda,
produtos alimentícios e não medicamentos. Por isso não existe uma proibição. A
farmacêutica ressalta que o problema ocorre quando são utilizadas não somente
como chás, mas para efeitos terapêuticos. Carla explica que é diferente do
consumo para patologias momentâneas – como má digestão – e para doenças como
diabetes, hipertensão e dislipidemia. Nesses casos, é mais arriscado, pois é
preciso usar padrões de concentração constantes na corrente sanguínea.
Dependendo de onde se compra – ou até em casos em que se faz o próprio
cultivo –, a espécie pode não ser realmente a com propriedades farmacológicas,
além da falta de cuidados com temperatura, armazenamento e luminosidade. Carla
explica que isso faz uma diferença enorme, pois a qualidade do material e o
teor de princípio ativo aumentam com o armazenamento e tempo de coleta
corretos. “Por isso a dosagem do marcador é necessária. Ela garante que vai ter
eficácia”.
RISCOS – A falta de orientação pode gerar o uso indevido, como intoxicação –
especialmente quando se compra a espécie errada –, efeitos colaterais e
interação com outros medicamentos. Como exemplo, Carla cita o Ginseng, usado
para melhorar a disposição, mas que possui uma substância que aumenta a pressão
arterial e pode cortar o efeito do anti-hipertensivo. Além disso, há plantas
que causam picos de hipoglicemia ou hipotensão (pressão baixa) – como a
Cavalinha.
A professora explica que, por serem naturais, a comunidade em geral
pensa que não faz mal à saúde, o que não é verdade, uma vez que as plantas
também têm efeitos nocivos. Por isso, a importância de uma orientação. “Tem que
usar a dosagem correta, no horário correto. E isso um profissional de saúde que
esteja habilitado pode e deve auxiliar no uso das plantas medicinais”, destaca.
O uso indevido pode ocorrer também na forma de preparo. Carla explica
que tem princípios ativos, por exemplo, que são instáveis ao calor, não podendo
empregar fervura nem infusão na forma de chá. “Por isso, tem que ser conhecida
a propriedade físico-química de cada componente”.
Carla ressalta que os fitoterápicos – tanto industrializados como
manipulados – possuem uma dose definida, enquanto nos chás há uma variação de
dosagens, não podendo determinar o nível de princípio ativo. A farmacêutica
menciona que, apesar de poder ter ação, não há garantias, visto a falta de
dosagem padrão.
Como exemplo, tem-se o pó de guaraná, que para funcionar como
estimulante precisa de uma dose mínima de cafeína. “Por isso, às vezes tem
planta que não funciona, pois não está garantindo o teor mínimo”. Para não ter
riscos de efeitos colaterais, ineficiência ou interferências em outros
medicamentes, é essencial o acompanhamento profissional. “O consumo tem que ser
cauteloso. Os profissionais de saúde têm que passar isso para a população: que
não é porque é fitoterápico que não faz mal nenhum. Tem que ter uma orientação
de uso, como qualquer outro medicamento”, ressalta Carla Lanza.
Por Victória Meschini – Colaboradora
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