terça-feira, 25 de agosto de 2015

Desejo sexual feminino

Alguns tipos de medicamentos tem um forte apelo popular, por apresentar-se como uma via fácil para a solução de certos problemas. Medicamentos contra alopecia (que diminua a queda de cabelo), para emagrecimento ou para melhorar o desejo sexual estão dentro dessa categoria.  Há muitas opções para o desempenho sexual masculino, porém nenhum para o feminino. Ao menos até essa semana, quando o FDA aprovou a comercialização do primeiro produto a base de flibanserina, ainda não disponível em nenhum outro país.

O fato de não haver medicamentos para disfunção do desejo sexual das mulheres, gerou denúncias de que haveria um viés de gênero por parte dos laboratórios e das autoridades sanitárias, a ponto do FDA se defender dessa acusação no relatório de aprovação do medicamento. Porém, os medicamentos para disfunção erétil masculina não são medicamentos que melhoram o desejo sexual, apenas melhoram sua resposta fisiológica. O desejo, ou a libido, é algo a ser construído individualmente, com forte componente cultural e resultado da visão pessoal sobre o sexo e relacionamentos. Há muito tabu e preconceitos.

Esse medicamento, recentemente aprovado, foi usado inicialmente para o controle da depressão maior, em homens e mulheres. Ao longo do processo de pesquisa, aconteceram relatos de aumento do desejo sexual por parte das mulheres. O que fez que o laboratório modificasse o encaminhamento de suas pesquisas para esse lado. Foram realizados três estudos com mais de duas mil mulheres que relataram aumento do desejo sexual.

Apesar de ser um medicamento seguro, provoca muitas reações adversas como intensa queda de pressão arterial, podendo chegar a um quadro de síncope. Até o momento, não foi constatado câncer em experiências com animais, porém não foi descartado o risco em humanos. É um medicamento totalmente contraindicado para uso concomitante com os contraceptivos orais. Nessa condição, aumentam a incidência de reações adversas como cansaço e tontura. A flibanserina aumentou o risco de apendicite nas mulheres testadas, além de outras reações. O medicamento provoca sonolência mais do que insônia, porém ambas são esperadas. E também: náuseas, boca seca, ansiedade e constipação. O álcool aumenta, e muito, o resultado dessas reações, impedindo seu uso concomitante.

O relatório do FDA alerta que o entendimento do desejo sexual feminino é complexo e transformá-lo em dados para análise pode não representar todos os transtornos femininos em suas concepções culturais e variáveis individuais. Um ponto que o relatório alerta é para o fato do medicamento causar certa sedação e se isso, por si só, já não facilitaria o intercurso sexual e ser interpretado como melhoria do desejo. E ainda, os estudos não apontam se a melhora é persistente ou de que forma ele se processa em relação ao tempo, diferentemente do medicamento para disfunção sexual masculina.


Prof. Dr Paulo Angelo Lorandi, farmacêutico pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas-USP (1981), especialista em Homeopatia pelo IHFL (1983) e em Saúde Coletiva pela Unisantos (1997), mestre (1997) e doutor (2002) em Educação (Currículo) pela PUCSP. Professor titular da UniSantos. Sócio proprietário da Farmácia Homeopática Dracena.

* Publicado originalmente em 8 de junho de 2015 pelo Jornal da Orla.

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