quarta-feira, 5 de abril de 2017

Especialista fala sobre dificuldades no diagnóstico do autismo

Professora Sandra Lia
Alterações repentinas no humor, agressividade, comportamentos repetitivos e dificuldades na interação social e na comunicação estão entre os sinais do autismo. Acontece que, na prática, a pessoa pode não apresentar evidentemente nenhum destes sintomas e ainda assim ser autista. O contrário também é possível. Não é à toa que, muitas vezes, o caminho para se chegar ao diagnóstico é árduo.

Quem sabe muito bem dessa dificuldade é a professora doutora Sandra Lia Rodrigues, docente na Universidade Católica de Santos (UniSantos). Seu filho Gustavo, de 22 anos, só foi diagnosticado com autismo quando tinha 16. Apesar de ouvir que aquele comportamento devia se tratar apenas de uma rebeldia, ela conta que sabia desde cedo que ele era autista. Ainda assim, era necessário um diagnóstico. “Com 16 anos um psiquiatra falou que ele era e que dava para entender a dificuldade no diagnóstico. Ele disse que eu estimulei tanto meu filho que era muito difícil perceber características evidentes de autista nele”.

Esse tal estímulo é a palavra-chave para contribuir com o convívio em sociedade de portadores do autismo que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), afeta uma em cada 160 crianças. Para a professora, que orienta pais de autistas em seu consultório particular, a família não pode querer minimizar as diferenças. “O autista precisa estar inserido no meio social, escolar, para que ele aprenda e para que os colegas aprendam com ele também”.

Quando o assunto é aprendizado, uma dúvida comum é o convívio em sala de aula. Será que eles são capazes de aprender? Sandra Lia explica que eles aprendem, mas do jeito deles. “Cabe a nós, que não somos autistas, entender de que forma funciona o raciocínio de um autista. Porque é mais fácil para nós identificarmos formas diferentes de ensinar o autista do que o autista ter que entender a nossa única forma de raciocínio”.

Ela explica que o autista precisa conviver com outras pessoas, mas em uma sala de aula, por exemplo, não adianta deixá-lo o tempo todo sozinho, sem o acompanhamento de um profissional habilitado que possa ajudar no momento em que ele tenha alguma dificuldade.

Quanto à inclusão, Sandra Lia critica a forma como a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência é aplicada, já que, na prática, ela trata todas as deficiências como se fossem uma só. “Numa disputa inclusiva os deficientes intelectuais vão ficar sempre para trás. É uma coisa que precisa ser pautada porque isso não é falado”.

Livro – Em 2012, a professora Sandra Lia lançou a obra “A busca de um diagnóstico – Ensinando a aprender e aprendendo a ensinar”. O livro tem o objetivo de mostrar possibilidades de compreensão dos “diferentes” para poder apoiá-los em seus aspectos afetivos, produtivos e socioculturais por meio de ações inclusivas. Clique aqui para adquirir a obra.

TEA - O Transtorno do Espectro do Autismo engloba o transtorno autístico (autismo), transtorno de Asperger, transtorno desintegrativo da infância e transtorno global ou invasivo do desenvolvimento sem outra especificação. Dificuldade na comunicação e em interações sociais, padrões repetitivos de comportamento e interesses restritivos são algumas características desse transtorno.

Liliane Souza - 7º semestre do curso de Jornalismo

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