segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Tabagismo e medicamentos

A fumaça do cigarro é constituída por cerca de 4.000 compostos diferentes, dos quais mais de 200 são tóxicos e cerca de 40 são cancerígenos. Essas substâncias, absorvidas no pulmão, percorrem o nosso organismo pelo sangue e, nessa trajetória, podem comprometer negativamente a atividade de alguns medicamentos.

Uma interação importante é o efeito indutor do metabolismo de alguns medicamentos, diminuindo a quantidade dos fármacos que circulam no sangue. Isso acontece porque os medicamentos sofrem reações químicas, principalmente no fígado, com o intuito de facilitar a sua eliminação do corpo. Essas reações químicas são mediadas por substâncias denominadas enzimas, que podem ter a sua ação aumentada ou diminuída dependendo das circunstâncias. Algumas substâncias inaladas do cigarro são capazes de aumentar, pelo menos, dois grandes grupos de enzimas hepáticas e que metabolizam alguns medicamentos, mas não todos.

Medicamentos como antidepressivos e antipsicóticos são mais afetados, portanto, usuários desses medicamentos quando deixam de fumar ou retomam a esse hábito podem necessitar de um ajuste na dose. Em situações como essa, informe ao seu médico para que ele faça o procedimento que, eventualmente, for necessário.

Um fumante pode vir a necessitar de uma dose quatro vezes maior de cafeína para obter o mesmo efeito. Por outro lado, o efeito estimulante da nicotina pode reduzir a ação ansiolítica ou indutora de sono dos chamados benzodiazepínicos (por exemplo, o bromazepam). Ainda a nicotina, por seu efeito vasoconstritor, diminui o efeito de alguns anti-hipertensivos, principalmente aqueles que promovem a vasodilatação. O efeito da dilatação dos vasos sobre a pressão arterial é fácil de ser explicada: quando se precisa aumentar o alcance de um esguicho d´água, aperta-se a ponta da mangueira para aumentar a pressão da água.

Os contraceptivos hormonais (as pílulas) têm aumentados as suas reações adversas, especificamente tromboembolismo, acidente vascular cerebral e infarto do miocárdio isquêmico. Essa interação é tão importante que a pílula anticoncepcional é contraindicada em mulheres com mais de 35 anos e que fumam mais de 15 cigarros por dia.

Nunca é demais lembrar que o cigarro provoca graves problemas cardiorrespiratórios e câncer, além de tudo que foi exposto. Se você não conseguir deixar de fumar sozinho, procure ajuda.

Prof. Dr Paulo Angelo Lorandi, farmacêutico pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas-USP (1981), especialista em Homeopatia pelo IHFL (1983) e em Saúde Coletiva pela Unisantos (1997), mestre (1997) e doutor (2002) em Educação (Currículo) pela PUCSP. Professor titular da UniSantos. Sócio proprietário da Farmácia Dracena.

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