segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Canabinóides no tratamento do glaucoma

O glaucoma é uma das principais causas de cegueira, não havendo cura após ter ser dado seu diagnóstico. O principal mecanismo dessa doença é o aumento da pressão ocular dentro do olho. O globo ocular é preenchido por um líquido em constante fluxo, assim como uma bola cheia de água que provoca pressão sobre as paredes internas. Essa pressão deve estar dentro de limites, caso contrário, pode provocar danos ao nervo óptico, o qual é responsável por conduzir os impulsos nervosos necessários à visão. 

Mesmo não possuindo cura, a progressão do glaucoma pode ser controlada, evitando maiores comprometimentos. O principal objetivo do tratamento é reduzir a pressão intraocular, seja diminuindo a produção do líquido responsável por causar o aumento de pressão ou aumentando sua circulação. Os medicamentos utilizados podem ser por via oral ou tópica, sendo essa mais comum. Instilar (pingar) medicamentos pela via oftálmica tem a vantagem de provocar menos efeitos sistêmicos (reações adversas pelo corpo).

Há um arsenal terapêutico bem consolidado para seu tratamento, porém há estudos envolvendo a Cannabis sativa ou maconha. Essa planta é muito controversa, provocando intenso debate entre os usuários recreativos e os profissionais da saúde. O uso terapêutico da Cannabis sativa possui extenso histórico, tendo indícios de seu uso desde 2700 a.C.. Tradicionalmente, já foi usada para tratar constipações, reumatismo, dores e até mesmo malária.

Por outro lado, muitos estudos mostram os efeitos deletérios sobre o SNC e, portanto, tornou-se uma droga ilícita no Brasil, seguindo tratados internacionais. Essa polêmica ganha novos contornos, na medida que alguns países têm liberado seu consumo de forma controlada. Mais do que nunca, seu uso, as indicações terapêuticas e contraindicações tornaram-se polêmicos nos últimos tempos.

De fato, a maconha possui diversas estruturas químicas, denominadas canabinóides, como o canabidiol e o tetrahidrocanabinol, as quais apresentam efeito farmacológico. Diversas pesquisas demonstram a capacidade do Cannabis em produzir respostas positivas para diversas indicações terapêuticas, como no aumento de apetite, em glaucoma ou estados epilépticos.

No que se refere ao seu uso para o controle do glaucoma, os canabinóides possuem resultados clínicos significativos, com o mecanismo de ação já esclarecido. Mas ao se introduzir um novo medicamento no mercado, é necessário analisar o benefício que ele trará em relação aos que já são utilizados. Nessa condição, os canabinoides, quando comparado aos medicamentos já utilizados, deixam de ser tão interessantes.
               
Apesar da maconha ter efeitos terapêuticos comprovados, há de se considerar vários efeitos indesejados provocados e que podem ser evitados ao se optar por outro medicamento. Sua principal desvantagem são os efeitos psicoativos e que podem, inclusive, causar alucinações em pacientes mais susceptíveis.

A Cannabis sativa continua proscrita no Brasil, considerando-se a Portaria 344/98 e sua regulamentação pela Agência de Vigilância Sanitária (ANVISA), porém já se admite produtos derivados dessa planta, com restrições de concentrações para os seus princípios ativos. A sua indicação deverá ser baseada na resposta a outros medicamentos, como alternativa médica para a terapêutica. Pelo fato de haver polêmicas sobre sua utilização, não deixe de esclarecer suas dúvidas com o médico ou farmacêutico, pois é um assunto delicado e que deve ser tratado de maneira crítica.

João Gabriel Gouvêa da Silva – 6° semestre do curso de Farmácia

Referências:

BONFÁ, L. et al. Uso de canabinóides na dor crônica e em cuidados paliativos. Rev. Bras. Anestesiol. Campinas, v.58, n.3, Maio 2008.

TOMIDA, I.; PERTWEE, R.G.; BLANCO-AZUARA, A. Cannabinoids and glaucoma. The British Journal of Ophthalmology. London, v. 88, n.5, p.708-713, 2004.


MATOS, R.L.A, et al. O Uso do Canabidiol no Tratamento da Epilepsia. Revista Virtual de Química. Rio de Janeiro, v. 9, n.2, 2017.

 



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