quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Etnofarmacologia no desenvolvimento de novos medicamentos

As plantas medicinais são utilizadas para tratar as enfermidades desde os tempos antigos, por diversos povos. Além do propósito medicinal, as plantas são utilizadas em diversos rituais, principalmente indígenas, com plantas que possuem propriedades alucinógenas ou estimulantes. Portanto, pode-se afirmar que as espécies vegetais são o alvo de inúmeras comunidades na busca de substâncias com poder curativo para determinada doença.

A etnofarmacologia contempla estudos sobre a utilização das plantas medicinais pelas comunidades, a fim de buscar a finalidade de determinada planta e averiguar se a indicação para seu uso possui evidências científicas. O reino vegetal possui um arsenal de moléculas biologicamente ativas. Esse fato e importante principalmente para Brasil, país com grande diversidade biológica.

Diversos medicamentos puderam ser criados a partir da etnofarmacologia. O ácido acetilsalicílico (AAS), um dos medicamentos mais comercializados no Brasil, foi descoberto estudando as propriedades da Salix alba, salgueiro utilizado pelos indígenas para o tratamento da febre. Além do AAS, há o ópio, substância utilizada para o controle de dores, extraída da papoula. A utilização do ópio para tratamento das dores e para fins recreativos é registrada até mesmo em épocas pré-históricas.

As plantas descobertas têm as moléculas químicas responsáveis pelas suas ações farmacológicas estudadas até haver a confirmação de que, de fato, ela possui as propriedades para sua finalidade. Essas moléculas foram isoladas, transformadas em medicamentos e, por fim, comercializadas para seu determinado propósito.

A etnofarmacologia, além de descobrir potenciais agentes terapêuticos por meio das comunidades, pode apontar mais indicações de uso para uma mesma substância. Porém, como se tratam de estudos com comunidades tradicionais que se relacionam com o meio natural de maneira cultural, são necessárias diversas evidências científicas. A legislação exige comprovação de uso seguro e efetivo para um período mínimo de 30 anos.

Até hoje, o reino vegetal é utilizado como matéria-prima para a produção de medicamentos, principalmente quando a sua síntese química em laboratório é economicamente inviável ou quando as moléculas são complexas, como é o caso dos digitálicos. É importante que ocorra o investimento nos estudos sobre as plantas medicinais, pois há uma variedade de espécies que ainda não foram descobertas, sendo assim, potenciais agentes terapêuticos, inclusive, para doenças que ainda não se há cura.

João Gabriel Gouvêa da Silva – 6° semestre do curso de Farmácia

Referências:

ALBUQUERQUE, U.P.; HANAZAKI, N. As pesquisas etnodirigidas na descoberta de novos fármacos de interesse médico e farmacêutico: fragilidades e perspectivas. Rev. Bras. Farmacogn. João Pessoa, v.16, suppl.0, Dez. 2006.

GOIS, M.A.F., et al. Etnobotânica de espécies vegetais medicinais no tratamento de transtornos do sistema gastrointestinal. Rev. bras. plantas med. Botocatu, v.18, n.2, Abr./Jun. 2016

PEREIRA, J.B.A., et al. O papel terapêutico do Programa Farmácia Viva e das plantas medicinais. Rev. bras. plantas med. Botocatu, v.17, n.4, Out./Dez. 2015

DUARTE, D.F. Uma breve história do ópio e dos opióides. Rev. Bras. Anestesiol. Campinas, v.55, n.1, Jan./Fev. 2005.

 



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