quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Com determinação, a trajetória é de sucesso

Dia 17 de setembro é o Dia Nacional do Portador de Deficiência Visual. Para esses indivíduos, a persistência e determinação são os caminhos para uma vida saudável, independente e, principalmente, feliz. É isso que Verena de Lima Amaral, de 27 anos, exemplifica com maturidade e bom humor.  

Decorrente de diabetes, Verena teve um descolamento de retina e catarata total nos dois olhos e perdeu a visão em 2011. O tratamento, como controle de insulina e monitoramento de glicemia, não era seguido à risca por ela. Apesar de tomar a insulina, não fazia da maneira correta ou até mesmo negligenciava os cuidados, em especial a alimentação. Segundo Verena, junto com a diabetes tipo 1, descoberta aos oito anos, surgiu uma compulsão alimentar pelo que não deveria comer – como doces e refrigerantes em grandes quantidades –, além de não praticar exercícios.

Para ela, isso é resultado de uma fraqueza do ser humano. “Quando diz que é proibido, parece que aquilo fica mexendo com você. Antes de sofrer de diabetes nem ligava para doce. Não era simplesmente dar de ombros, era uma fraqueza mais forte que a razão”, conta. Apesar do alerta da médica endocrinologista, Verena conta que era necessário, primeiramente, uma mudança nela mesma, o que não aconteceu na época. Hoje, faz um controle disciplinado, monitorando e tomando insulina três vezes por dia, sem abusar da alimentação.

O processo de perda de visão foi gradual desde 2008, quando perdeu a visão do olho direito e desenvolveu alta miopia no olho esquerdo, do qual se tornou baixa visão em 2009. Recuperou-se dessa condição, mas a visão nunca mais foi a mesma. Em 2011, sentiu que não enxergava mais as teclas do computador. De janeiro para fevereiro, a visão decaiu e, em março, estagnou como está até hoje. Do olho direito não enxerga nada, mas ainda tem percepção de claridade no olho esquerdo.

JORNALISMO - A adaptação à nova realidade foi difícil. Além disso, ver os colegas da turma de 2011 Do curso de Jornalismo da UniSantos se formarem e, ela, reclusa, foi doloroso. “Foi um divisor de águas. Tive que repensar numa reabilitação e numa vida melhor. E continuar vivendo. Se não perdi minha vida, tenho que continuar vivendo”, conta. Foi um momento para digerir e aceitar tudo o que aconteceu. Com esse pensamento, entrou para o Lar da Moças Cegas. Verena conta que outra dificuldade foi a aceitação da bengala, por ser o símbolo do deficiente visual. ”Mas eu transpus isso. Hoje desfilo e tenho uma bengala de cada cor”.

Da família, omitiu o quanto pode a perda da visão, pelo constrangimento. Apesar de, inicialmente, alguns comentários sobre ela não ter se cuidado, hoje só recebe apoio, admiração e comentários cheios de orgulho. Verena conta que a mãe teve dificuldade em aceitá-la de bengala. “O desconhecimento da família é normal para qualquer deficiente. Às vezes a gente precisa ensinar para a família”.

Outro aspecto da transição foi aperfeiçoar a visão, pois é preciso entender que não enxerga e, portanto, tem que ouvir. “Eu procuro sempre, mesmo nas piores situações, ter minha cabeça erguida. Mesmo no período de reclusão, mesmo chorando, em sempre confiei muito em Deus”.  E, segundo ela, hoje colhe os frutos bons dessa fé e determinação.

“Você pode até ter medo, mas se não desistir transpassa isso“. Segundo Verena, nada a impede e hoje busca uma vida como antes de perder a visão. A rotina é agitada e autônoma e conta que sobe e desce de ônibus, em média, quatro vezes por dia. Trabalhando como telefonista e voluntária do setor de comunicação do Lar das Moças Cegas, esse ano retomou o curso de Jornalismo. Além disso, frequenta uma academia próxima de onde mora, em São Vicente, vai à igreja duas vezes por semana e também faz aulas de informática. “Hoje eu posso falar, sem dúvida nenhuma, que tenho uma trajetória de sucesso”.


Por Victória Meschini - 8º semestre do curso de Jornalismo

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