sexta-feira, 25 de novembro de 2016

O medicamento como símbolo de saúde

No contexto da atenção à saúde, os medicamentos têm adquirido o status de símbolo de saúde, representando a materialização do desejado “completo estado de bem-estar”, e têm sido consumidos como mercadoria. Portanto, muito mais que instrumento técnico de intervenção médica sobre os processos fisiológicos da doença, o medicamento é um fato social, um objeto que luta por ser moderno e científico.

O Brasil representa o sétimo mercado de medicamentos do mundo, e seu consumo tem características de países em desenvolvimento, em que grande número de habitantes não tem acesso aos medicamentos, enquanto alguns os consomem abusivamente. A saúde, então, se transforma em algo a ser obtido pelo consumo de substâncias e ações "saudáveis", deixando de ser uma característica e um direito, para tornar-se objeto de consumo. É neste quadro que o medicamento se apresenta como uma das materializações ou símbolos (poderosos) da saúde a ser consumida.

O medicamento, em nosso país, está funcionando (e eficazmente) como símbolo de saúde, ou seja, como realidade material que, sob a forma de um produto existente (e, perfeitamente acessível ao consumidor comum). O medicamento se apresenta em um mercado de oferta e procura de bens e serviços de saúde, e está ocupando o lugar da Saúde, uma vez que ela não está conseguindo aparecer como representante de si mesma. Para que que a saúde fosse uma realidade de per si, seria necessário ir às causas sociais e comportamentais da doença, o que, pelo fato de implicar necessariamente em resultados a longo prazo, choca fortemente com a visão da doença como um estado orgânico altamente indesejável que deve, consequentemente, ser o mais rapidamente possível aliviado ou superado.

Ir às causas comportamentais da doença implicaria, quase sempre, dolorosas ou trabalhosas mudanças de hábitos ou de comportamentos ou processos terapêuticos longos, custosos e certos como as psicoterapias ou psicanálises.

Portanto, cabe a todos os profissionais da saúde a responsabilidade educativa de reverter esta situação, enfrentando as barreiras citadas acima, contribuindo no sentido de tornar mais madura nossa sociedade, não permitindo que os medicamentos ocupem o indevido lugar de substitutivos ou símbolos de saúde, cuja função consistiria em inibir a intervenção nas causas sociais e comportamentais das doenças.

Thaís Damin Lima - 8º semestre do curso de Farmácia

Referências:

LEFÈVRE, Fernando. A função simbólica dos medicamentos . Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 17, n. 6, p. 500-503 , dec. 1983.

ROSEMBERG, Brani. O medicamento como mercadoria simbólica. Cad. Saúde Pública,  Rio de Janeiro ,  v. 8, n. 2, p. 207-209,  June  1992 .  

Silvana Nair Leite1, Maria da Penha Costa Vasconcellos2 Os diversos sentidos presentes no medicamento: elementos para uma reflexão em torno de sua utilização. Arquivos Catarinenses de Medicina Vol. 39, no. 3, de 2010.

Nenhum comentário:

Postar um comentário