No contexto da atenção à saúde, os
medicamentos têm adquirido o status de símbolo de saúde, representando a materialização
do desejado “completo estado de bem-estar”, e têm sido consumidos como
mercadoria. Portanto, muito mais que instrumento técnico de intervenção médica
sobre os processos fisiológicos da doença, o medicamento é um fato social, um
objeto que luta por ser moderno e científico.
O Brasil representa o sétimo
mercado de medicamentos do mundo, e seu consumo tem características de países
em desenvolvimento, em que grande número de habitantes não tem acesso aos
medicamentos, enquanto alguns os consomem abusivamente. A saúde, então, se
transforma em algo a ser obtido pelo consumo de substâncias e ações
"saudáveis", deixando de ser uma característica e um direito, para
tornar-se objeto de consumo. É neste quadro que o medicamento se apresenta como
uma das materializações ou símbolos (poderosos) da saúde a ser consumida.
O medicamento, em nosso país,
está funcionando (e eficazmente) como símbolo de saúde, ou seja, como realidade
material que, sob a forma de um produto existente (e, perfeitamente acessível
ao consumidor comum). O medicamento se apresenta em um mercado de oferta e
procura de bens e serviços de saúde, e está ocupando o lugar da Saúde, uma vez
que ela não está conseguindo aparecer como representante de si mesma. Para que que
a saúde fosse uma realidade de per si, seria necessário ir às causas sociais e
comportamentais da doença, o que, pelo fato de implicar necessariamente em
resultados a longo prazo, choca fortemente com a visão da doença como um estado
orgânico altamente indesejável que deve, consequentemente, ser o mais
rapidamente possível aliviado ou superado.
Ir às causas comportamentais da doença
implicaria, quase sempre, dolorosas ou trabalhosas mudanças de hábitos ou de comportamentos
ou processos terapêuticos longos, custosos e certos como as psicoterapias ou psicanálises.
Portanto, cabe a todos os
profissionais da saúde a responsabilidade educativa de reverter esta situação, enfrentando
as barreiras citadas acima, contribuindo no sentido de tornar mais madura nossa
sociedade, não permitindo que os medicamentos ocupem o indevido lugar de
substitutivos ou símbolos de saúde, cuja função consistiria em inibir a
intervenção nas causas sociais e comportamentais das doenças.
Thaís Damin Lima - 8º semestre do curso de Farmácia
Thaís Damin Lima - 8º semestre do curso de Farmácia
Referências:
LEFÈVRE, Fernando. A função simbólica dos medicamentos . Revista
de Saúde Pública, São Paulo, v. 17, n. 6, p. 500-503 , dec. 1983.
ROSEMBERG, Brani. O medicamento como mercadoria simbólica. Cad.
Saúde Pública, Rio de Janeiro , v. 8, n. 2, p.
207-209, June 1992 .
Silvana Nair Leite1, Maria da Penha Costa Vasconcellos2 Os
diversos sentidos presentes no medicamento: elementos para uma reflexão em torno de sua utilização.
Arquivos Catarinenses de Medicina Vol. 39, no. 3, de 2010.
Nenhum comentário:
Postar um comentário