O metilfenidato é um agente
estimulante do sistema nervoso central, indicado para auxiliar as intervenções
psicológicas, educacionais e sociais no tratamento de distúrbios de
hiperatividade e déficit de atenção (TDAH). O fármaco incrementa os mecanismos
excitatórios do cérebro. Isto resulta em melhoria na concentração, na coordenação
motora, no controle dos impulsos, na adaptação social e familiar. Apresenta
eficácia clínica e um bom perfil de segurança, sendo seus principais efeitos
adversos a curto prazo a redução de apetite e insônia. A longo prazo
dependência, alucinações, piora da cognição e efeitos cardiovasculares
(hipertensão, parada cardíaca).
Embora úteis no tratamento, são
medicamentos psicoativos com histórico que mostra propensão ao abuso. Estudo
mostra que os Estados Unidos da América consomem cerca de 80% do metilfenidato
produzido no mundo, indicando um possível uso indiscriminado. Diversos estudos
têm indicado aumento do diagnóstico de TDAH e consequente aumento no consumo de
metilfenidato nos países europeus.
Segundo a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA), este fármaco tem sido consumido em larga escala
no nosso país. Uma das suspeitas para o consumo acima da média é a de que haveria
desvio de uso, como, por exemplo, por adultos que estão em busca de maior
concentração nos estudos, trabalho ou até mesmo na redução de peso. Estudo
indica que no Brasil entre os anos de 2000 e 2008, as vendas de dezembro do
metilfenidato por caixa aumentaram de 71mil a 1.147.000, colocando o país como
segundo maior consumidor mundial. Segundo dados do Sistema Nacional de
Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC), de 2009 para 2011, a estimativa
percentual de aumento real no consumo médio mensal de metilfenidato no País foi
de 28,3%.
Existe uma ampla discussão sobre
o próprio diagnóstico de TDAH. Como visto acima, o consumo do medicamento para
tratamento da síndrome tem crescido, porém os critérios diagnósticos têm sido
revistos. Em uma sociedade hiperestimulada, como a de hoje, as crianças teriam
tendência a apresentar maior agitação e atenção dividida em diversas tarefas, o
que não implicaria necessariamente serem portadores de TDAH.
Outro ponto relevante é o uso para
outros fins como emagrecimento e o chamado “aperfeiçoamento da capacidade
cognitiva”. O uso e dependência entre
estudantes universitários tem crescido, por sua ação aparentemente positiva
sobre a concentração, melhora na aprendizagem, e tem sido escolhido para
auxiliar os estudos.
Conforme o observado acima é
preciso muito cuidado quando se trata de uso de medicamentos, desviar da
recomendação original de uso pode trazer danos à saúde. O metilfenidato causa
uma relação de dependência muito séria, e seu uso a longo prazo em pessoas
saudáveis pode ser prejudicial a própria cognição que ele supostamente
“aperfeiçoaria”. O uso deve ser restrito aos fins aprovados. Consulte sempre um
profissional especializado para tirar suas dúvidas.
Marina Maria de Oliveira – 10º semestre
do curso de Farmácia
Referências:
CALIMAN, L.V.; RODRIGUES, P.H.P. A
experiência do uso de metilfenidato em adultos diagnosticados com TDAH. Psic.
em Est., Maringá, v.19, n.1, p.125-134, 2014.
GALINDO, D.; LEMOS, F.C.S.;
RODRIGUES, R.V. Do Poder Psiquiátrico: uma Analítica das Práticas de
Farmacologização da Vida. Mnemosine, v.10, n.1, p.98-113, 2014.
MACHADO, F.S.N. et al. Uso de
metilfenidato em crianças com transtorno de déficit de atenção e
hiperatividade. Rev. Saúde Pública, v.49, 2015.
PASTURA, G.; MATTOS, P. Efeitos
colaterais do metilfenidato. Rev. Psiq. Clín., v.31, p.100-104, 2004.
ROSARIO, L.; LEON, L.R.V.
Controversias sobre la prescripción de metilfenidato en niños con Trastorno de
Déficit Atencional con Hiperactividad (TDAH). Artículo científico, Facultad de
Psicología Universidad de la República Oriental del Uruguay, 2014.
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