quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Consequências do uso indiscriminado de metilfenidato

O metilfenidato é um agente estimulante do sistema nervoso central, indicado para auxiliar as intervenções psicológicas, educacionais e sociais no tratamento de distúrbios de hiperatividade e déficit de atenção (TDAH). O fármaco incrementa os mecanismos excitatórios do cérebro. Isto resulta em melhoria na concentração, na coordenação motora, no controle dos impulsos, na adaptação social e familiar. Apresenta eficácia clínica e um bom perfil de segurança, sendo seus principais efeitos adversos a curto prazo a redução de apetite e insônia. A longo prazo dependência, alucinações, piora da cognição e efeitos cardiovasculares (hipertensão, parada cardíaca).

Embora úteis no tratamento, são medicamentos psicoativos com histórico que mostra propensão ao abuso. Estudo mostra que os Estados Unidos da América consomem cerca de 80% do metilfenidato produzido no mundo, indicando um possível uso indiscriminado. Diversos estudos têm indicado aumento do diagnóstico de TDAH e consequente aumento no consumo de metilfenidato nos países europeus. 

Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), este fármaco tem sido consumido em larga escala no nosso país. Uma das suspeitas para o consumo acima da média é a de que haveria desvio de uso, como, por exemplo, por adultos que estão em busca de maior concentração nos estudos, trabalho ou até mesmo na redução de peso. Estudo indica que no Brasil entre os anos de 2000 e 2008, as vendas de dezembro do metilfenidato por caixa aumentaram de 71mil a 1.147.000, colocando o país como segundo maior consumidor mundial. Segundo dados do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC), de 2009 para 2011, a estimativa percentual de aumento real no consumo médio mensal de metilfenidato no País foi de 28,3%.

Existe uma ampla discussão sobre o próprio diagnóstico de TDAH. Como visto acima, o consumo do medicamento para tratamento da síndrome tem crescido, porém os critérios diagnósticos têm sido revistos. Em uma sociedade hiperestimulada, como a de hoje, as crianças teriam tendência a apresentar maior agitação e atenção dividida em diversas tarefas, o que não implicaria necessariamente serem portadores de TDAH.

Outro ponto relevante é o uso para outros fins como emagrecimento e o chamado “aperfeiçoamento da capacidade cognitiva”.  O uso e dependência entre estudantes universitários tem crescido, por sua ação aparentemente positiva sobre a concentração, melhora na aprendizagem, e tem sido escolhido para auxiliar os estudos.

Conforme o observado acima é preciso muito cuidado quando se trata de uso de medicamentos, desviar da recomendação original de uso pode trazer danos à saúde. O metilfenidato causa uma relação de dependência muito séria, e seu uso a longo prazo em pessoas saudáveis pode ser prejudicial a própria cognição que ele supostamente “aperfeiçoaria”. O uso deve ser restrito aos fins aprovados. Consulte sempre um profissional especializado para tirar suas dúvidas.

Marina Maria de Oliveira – 10º semestre do curso de Farmácia

Referências:

CALIMAN, L.V.; RODRIGUES, P.H.P. A experiência do uso de metilfenidato em adultos diagnosticados com TDAH. Psic. em Est., Maringá, v.19, n.1, p.125-134, 2014.

GALINDO, D.; LEMOS, F.C.S.; RODRIGUES, R.V. Do Poder Psiquiátrico: uma Analítica das Práticas de Farmacologização da Vida. Mnemosine, v.10, n.1, p.98-113, 2014.

MACHADO, F.S.N. et al. Uso de metilfenidato em crianças com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. Rev. Saúde Pública, v.49, 2015.

PASTURA, G.; MATTOS, P. Efeitos colaterais do metilfenidato. Rev. Psiq. Clín., v.31, p.100-104, 2004.

ROSARIO, L.; LEON, L.R.V. Controversias sobre la prescripción de metilfenidato en niños con Trastorno de Déficit Atencional con Hiperactividad (TDAH). Artículo científico, Facultad de Psicología Universidad de la República Oriental del Uruguay, 2014.



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