sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Abuso de medicamentos: Metilfenidato

O abuso de medicamentos de venda com receita médica, em particular os medicamentos que contém substâncias controladas, vem sendo motivo de preocupação em vários países. Observa-se, nos dias de hoje, um fenômeno mundial da expansão de uso de psicotrópicos, de maneira pouco divulgada, mas cada vez mais alarmante motivada pela medicalização da vida. Esse processo ocorre quando um problema não-médico começa a ser definido e tratado como uma questão médica, normalmente por meio de doenças, transtornos e síndromes, a fim de cada vez mais tentar enquadrar nas exigências contemporâneas (SILVA, 2012).


Os relatos de abuso de metilfenidato têm se tornado cada vez mais comum com a popularização do Transtorno do Déficit de Atenção, porque o tratamento pode ser feito com psicólogos e terapias e não somente com ajuda farmacológica (SHIRAKAWA, 2013).
O metilfenidato mais conhecido como Metilfenidato é a substância mais frequentemente utilizada no tratamento do transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, TDAH. Entretanto, devido suas propriedades psicoestimulantes, tem sido usado para aumento do rendimento intelectual em diversas áreas de estudo. (SHIRAKAWA, 2013) Sendo assim ficou conhecida entre os estudantes como a droga dos concursos.

A Metilfenidato é um estimulante do sistema nervoso central e tem o mesmo mecanismo de ação das anfetaminas e da cocaína. Ela ativa o sistema de excitação principalmente no córtex pré-frontal, em regiões límbicas e no estriado. Há, portanto, um aumento da concentração extracelular de dopamina, por inibir a recaptação dessa catecolamina por meio de seu respectivo transportador (SILVA, 2012).

A Metilfenidato é do grupo dos psicoanalépticos, que vem sendo consumido em larga escala no contexto mundial e também nacional, pesquisas mostram o crescimento exponencial da produção de metilfenidato no Brasil, nos últimos dez anos. Muitas vezes obtida na compra ilegal do remédio de fornecedores via internet ou mesmo do acesso através de amigos (CRUZ, 2011). Só em 2009, foram consumidas no Brasil quase 2 milhões de caixas de metilfenidato, tornando o país o segundo maior consumidor mundial de Metilfenidato (LINHARES,2012).
Às vezes é utilizado para fins não médicos e de forma indevida para permanecer em estado de alerta. Como no aprimoramento cognitivo de pessoas que não apresentam critérios para o diagnóstico de TDAH. A expressão “Aprimoramento Cognitivo Farmacológico” é usada para nomear a prática de aprimorar a aprendizagem, atenção e memória em pessoas saudáveis e normais por meio de medicamentos (SHIRAKAWA, 2012). Assim, ocorre uma melhora no processo de aprendizagem e o desempenho acadêmico e profissional.

As ações cotidianas levam a liberação de dopamina, e assim levam ao prazer, porém por pouco tempo. Contudo, o metilfenidato aumenta muito esse mediador. Assim, os prazeres da vida não conseguem competir com essa elevação de dopamina causada pela Metilfenidato. A única coisa que fornecerá esta sensação de prazer seria outro comprimido de metilfenidato. Esse é o mecanismo clássico da dependência química. É também como faz a cocaína (CRUZ, 2010). Se consumida em certa dosagem, defende-se que auxiliaria no desempenho de tarefas escolares e acadêmicas, pois aumentaria a atividade das funções executivas, aumentando a concentração, além de atuar como atenuador da fadiga (MOYSES, 2013).

Há aumento no número de pessoas que fazem uso de medicamento restritos de maneira indevida para "turbinar" o funcionamento do cérebro, isso ocorre quando as pessoas acabam lançando mão de qualquer coisa para conseguirem seus objetivos, inclusive de remédios cujo esforço num primeiro momento parece ser mínimo (CARLINI,2002).

O uso indiscriminado do metilfenidato se faz, em grande parte, por universitários, empresários e profissionais da área de saúde. Esses usuários, em geral, têm um conhecimento mais aprofundado sobre a droga em relação à população (LINHARES, 2012).

Entre estudantes usuários de metilfenidato não-prescrito, a maior parte usa em períodos dos estudos acadêmicos de elevado estresse. A realidade do universitário no que tange ter que estudar um volume maior de matéria e conseguir assimilar muito conteúdo em pouco tempo, pressionado em relação a provas, datas de provas, e a situação torna a vida mais aceita a recorrer a esse tipo de medicamento, ou seja, torna as drogas estimulantes uma saída rápida, porém seus efeitos benéficos, se existirem, são efêmeros e podem trazer efeitos colaterais preocupantes, como, no caso da Metilfenidato, insônia, diminuição do apetite, alucinações, taquicardia e variações bruscas de humor, podendo levar o indivíduo à dependência de remédios para dormir e levar também à dependência física e psíquica (CARLINI, 2002).

Além disso, as pessoas que desejam perder peso corporal utilizam o metilfenidato, indevidamente, em razão do efeito colateral de diminuição do apetite. Essa e outras falsas indicações podem ser favorecidas porque esses medicamentos fazem parte da Farmacopeia, brasileira e de outros países, e, portanto, por serem liberados para uso médico, são erroneamente interpretados pela população como “mais seguros” que as drogas ilícitas (LINHARES,2012)

O crescimento exponencial do consumo de metilfenidato nos últimos tempos é alarmante e chama atenção para as possíveis consequências no futuro. (MOYSES, 2013) As autoridades sanitárias devem tomar atitudes em relação ao uso indevido ou indiscriminado, não apenas em crianças medicadas especificamente com essa substância, como também em outros grupos. De acordo com os aspectos éticos e legais o metilfenidato é indicado para o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, mas para esta finalidade esta se tornando mito, deve-se ter em mente que a indústria farmacêutica tem como prioridade a construção das condições estratégicas sempre centradas no consumo de um fármaco (LINHARES, 2012).

Isadora Dias Ribeiro Santos - 6º semestre- Farmácia

 CRUZ, T. et al. .  Uso não-prescrtio de metilfenidato entre estudantes de medicina da Universidade Federal  da Bahia. Gazeta Médica da Bahia. V.81 . p. 3-6. 2010 . Disponível em: http://www.gmbahia.ufba.br/index.php/gmbahia/article/view/1148/1082. Acesso em : 8 de out.

SILVIA, A. et al. .A explosão do consumo de ritalina. Revista de Psicologia da UNESP v.11. 2012. Disponível em <http://www2.assis.unesp.br/revpsico/index.php/revista/article/viewFile/174/298> Acesso em :8 de out


 SHIRAKAWA,  M. TEJADA, S; MARINHO, C. Questões atuais no uso indiscriminado do metilfenidato. Omnia Saúde, v.9, n.1, p.46-53, 2012. Disponível em <www.fai.com.br/portal/ojs/index.php/omniasaude/article/.../392/pdf‎> Acesso em : 8 de out.

LINHARES,M. Estudo da Ritalina sobre o sistema nervoso de animais jovens e adultos. Dissertação apresentada ao programa de Pós Graduação em Farmacologia na Universidade Federal do Ceará. 2012. Disponível em <www .repositorio.ufc.br :8080/ri/bitstream.../1 /2012_dis_milinhares.pdf‎> Acesso em : 8 de out

 MOYSES,C. A ritalina e os riscos de um 'genocídio do futuro'. Entrevista no Portal da Unicamp. Disponível em <file:///F:/A%20ritalina%20e%20os%20riscos%20de%20um%20'genoc%EDdio%20do%20futuro'%20%20%20UNICAMP%20-%20Universidade%20Estadual%20de%20Campinas.htm> Acesso em 8 de out.


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