A
medicalização atualmente é
vista como um atalho na busca ávida
por respostas rápidas. Um dos veículos para obtenção de vantagens
competitivas que atualmente caiu
nas graças de pais e educadores atende pelo nome metilfenidato, medicamento de
primeira linha no tratamento de Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade - TDAH, síndrome que
leva a um comprometimento funcional importante incluindo transtornos do
aprendizado e humor, que atinge cerca 3% a 5% das crianças brasileiras, costuma aparecer
entre 3 e 5 anos e em mais de 60% dos casos permanecem na adolescência.
Seu
diagnóstico não é fácil já que os sintomas podem sugerir outras doenças
psiquiátricas –como ansiedade, depressão e
distúrbio bipolar- ou simples problemas de comportamento. Deve ser feito
por um profissional psiquiatra, porém os pais devem ficar atentos a alguns
sintomas como: a criança parece não ouvir quando se fala com ela, mexe com as
mãos ou pés ou se remexe o tempo todo na cadeira, corre de um lado para outro
ou sobe onde não deve com freqüência, não presta atenção em detalhes ou, por
descuido, erra nas tarefas escolares, responde logo a uma pergunta que nem
acabou de ser feita.
Fato é que desde o nascimento recebemos diversos
estímulos visuais e sonoros para que através de gerações sejamos alfabetizados cada
vez mais cedo. Deste modo é importante salientar que a desatenção, desorganização no
tempo e espaço, hiperatividade
ou a impulsividade como sintomas isolados não caracterizam TDAH. Uma vez que os
critérios de diagnóstico encaixam-se também a muitas crianças normais, porém
que não se “comportam” devidamente na aula, o rótulo de TDAH vem sendo
destinado a crianças de forma imprecisa e inadequada, não considerando suas
implicações na infância.
Para o correto diagnóstico é sempre necessário
contextualizar os sintomas na história de vida da criança: problemas na relação com os pais
e/ou com colegas, sistemas educacionais inadequados, efeito
colateral de alguns medicamentos (como os antialérgicos, que afetam o
comportamento) podem resultar em tais comportamentos, que podem até mesmo ser da
própria personalidade da criança.
Dada esta
medicalização da educação, o número de diagnósticos aumentados pela sintomatologia do
TDAH é uma das principais preocupações acerca do uso do metilfenidato, batizado de "droga da
obediência", pois há uma pressão exercida por pais e professores
sobre os médicos para obtenção de sua prescrição. A indicação do medicamento
meramente para o controle de crianças que apresentam comportamento diferenciado
(inadequados) durante aulas e outros eventos sociais, mas que não
necessariamente tem algum tipo de transtorno de tipo neurológico deve ser
questionada.
Em 2006, 34,6 toneladas foram produzidas
pelos EUA, que são não somente os maiores fabricantes, mas também os maiores
consumidores: 82,2% do que produzem é para uso interno. No Brasil, as vendas do
medicamento passaram de 71 mil caixas, em 2000, para 739 mil em 2004, o que
representa um incremento de 940% (entre 2003 e 2004, o aumento correspondeu a
51%). Reforçam essa informação os dados da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária, segundo os quais, o consumo do metilfenidato passou de 23 kg em 2000
para 93 kg em 2005. Em 2006, o Brasil fabricou 226 kg de metilfenidato e
importou outros 91 kg.
Outra
problemática é o emprego do medicamento por pessoas que não apresentam o transtorno, como
drogas de abuso, inibidor de apetite ou para melhorar o desempenho, para se
manterem despertos durante longas jornadas de estudo ou trabalho.
A
ocorrência de 26 mortes ocorrendo em uso concomitante de estimulantes
(principalmente sais de anfetaminas) no intervalo de 1999 a 2003 motivou o FDA
a incluir advertência sobre risco cardiovascular na bula do metilfenidato e dos
demais psicoestimulantes. Os efeitos colaterais incluem desde supressão do
crescimento, alucinações, dores de cabeça,
insônia, dores abdominais e redução do crescimento, a dependência, taquicardia.
Suzana Silva
de Oliveira - 8º semestre do curso de Farmácia
Referências
Louzã, M.R; Mattos, P. Questões
atuais no tratamento farmacológico do TDAH em adultos com metilfenidato. São Paulo: HC-FMUSP, 2007.
Itaborahy, C; Ortega, F.
O metilfenidato no Brasil: uma década de publicações. Rio de Janeiro:
ABRASCO, 2013.
ONU.
International Narcotics Control Board.
Psychotropic substances: statistics for 2006: assessments of annual medical and
scientific requirement. 2008.
Nenhum comentário:
Postar um comentário