sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Medicalização da saúde: uso do metilfenidato

A medicalização atualmente é vista como um atalho na busca ávida por respostas rápidas. Um dos veículos para obtenção de vantagens competitivas que atualmente caiu nas graças de pais e educadores atende pelo nome metilfenidato, medicamento de primeira linha no tratamento de Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade - TDAH, síndrome que leva a um comprometimento funcional importante incluindo transtornos do aprendizado e humor, que atinge cerca 3% a 5% das crianças brasileiras, costuma aparecer entre 3 e 5 anos e em mais de 60% dos casos permanecem na adolescência.


Seu diagnóstico não é fácil já que os sintomas podem sugerir outras doenças psiquiátricas –como ansiedade, depressão e distúrbio bipolar- ou simples problemas de comportamento. Deve ser feito por um profissional psiquiatra, porém os pais devem ficar atentos a alguns sintomas como: a criança parece não ouvir quando se fala com ela, mexe com as mãos ou pés ou se remexe o tempo todo na cadeira, corre de um lado para outro ou sobe onde não deve com freqüência, não presta atenção em detalhes ou, por descuido, erra nas tarefas escolares, responde logo a uma pergunta que nem acabou de ser feita.

Fato é que desde o nascimento recebemos diversos estímulos visuais e sonoros para que através de gerações sejamos alfabetizados cada vez mais cedo. Deste modo é importante salientar que a desatenção, desorganização no tempo e espaço, hiperatividade ou a impulsividade como sintomas isolados não caracterizam TDAH. Uma vez que os critérios de diagnóstico encaixam-se também a muitas crianças normais, porém que não se “comportam” devidamente na aula, o rótulo de TDAH vem sendo destinado a crianças de forma imprecisa e inadequada, não considerando suas implicações na infância.

Para o correto diagnóstico é sempre necessário contextualizar os sintomas na história de vida da criança: problemas na relação com os pais e/ou com colegas, sistemas educacionais inadequados, efeito colateral de alguns medicamentos (como os antialérgicos, que afetam o comportamento) podem resultar em tais comportamentos, que podem até mesmo ser da própria personalidade da criança.

Dada esta medicalização da educação, o número de diagnósticos aumentados pela sintomatologia do TDAH é uma das principais preocupações acerca do uso do metilfenidato, batizado de "droga da obediência", pois há uma pressão exercida por pais e professores sobre os médicos para obtenção de sua prescrição. A indicação do medicamento meramente para o controle de crianças que apresentam comportamento diferenciado (inadequados) durante aulas e outros eventos sociais, mas que não necessariamente tem algum tipo de transtorno de tipo neurológico deve ser questionada.

Em 2006, 34,6 toneladas foram produzidas pelos EUA, que são não somente os maiores fabricantes, mas também os maiores consumidores: 82,2% do que produzem é para uso interno. No Brasil, as vendas do medicamento passaram de 71 mil caixas, em 2000, para 739 mil em 2004, o que representa um incremento de 940% (entre 2003 e 2004, o aumento correspondeu a 51%). Reforçam essa informação os dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, segundo os quais, o consumo do metilfenidato passou de 23 kg em 2000 para 93 kg em 2005. Em 2006, o Brasil fabricou 226 kg de metilfenidato e importou outros 91 kg.

Outra problemática é o emprego do medicamento por pessoas que não apresentam o transtorno, como drogas de abuso, inibidor de apetite ou para melhorar o desempenho, para se manterem despertos durante longas jornadas de estudo ou trabalho.

A ocorrência de 26 mortes ocorrendo em uso concomitante de estimulantes (principalmente sais de anfetaminas) no intervalo de 1999 a 2003 motivou o FDA a incluir advertência sobre risco cardiovascular na bula do metilfenidato e dos demais psicoestimulantes. Os efeitos colaterais incluem desde supressão do crescimento, alucinações, dores de cabeça, insônia, dores abdominais e redução do crescimento, a dependência, taquicardia.

Suzana Silva de Oliveira - 8º semestre do curso de Farmácia

Referências
 Louzã, M.R; Mattos, P. Questões atuais no tratamento farmacológico do TDAH em adultos com metilfenidato. São Paulo: HC-FMUSP, 2007.
Itaborahy, C; Ortega, F. O metilfenidato no Brasil: uma década de publicações. Rio de Janeiro: ABRASCO, 2013.
ONU. International Narcotics Control Board. Psychotropic substances: statistics for 2006: assessments of annual medical and scientific requirement. 2008.

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