terça-feira, 8 de outubro de 2013

Medicamentos manipulados e industrializados

A história dos medicamentos remete ao trabalho dos boticários, agentes da cura que exerciam a medicina e a profissão farmacêutica.  No século XVIII então, na Europa, houve a separação das funções e fica proibido ao médico ser proprietário de uma botica. No Brasil, os primeiros registros datam à época dos jesuítas, que manipulavam e dispensavam o uso de medicamentos. 


Até o começo do século XX praticamente todos os medicamentos ao alcance da população eram manipulados ou fruto da etnofarmácia, quando então a industrialização se instaurou com força na década de trinta, rapidamente virando modismo. Os medicamentos passaram a ser industrializados e os médicos gradativamente deixaram de prescrever fórmulas manipuladas para aderir a essa tecnologia.

Os medicamentos manipulados têm custos reduzidos por vários motivos, quando comparados ao medicamento de referência industrializado. Um fato que é muito importante é o de não deterem royalties, ou seja não há necessidade se pagar por seu desenvolvimento, uma vez que a patente já expirou. Mas a importância dos medicamentos manipulados não se resume ao preço.

A apropriação de uma forma para ser utilizada, por exemplo, em indivíduos com dificuldade de deglutição ou alérgicos à corantes, ou ainda para pacientes pediátricos e idosos -que na maioria das vezes não encontram disponíveis no mercado o medicamento na dose adequada (mg) e em quantidade (dose) necessária e suficiente ao período de tratamento. Os médicos também podem prescrever diversas associações entre os fármacos numa mesma formulação, diminuindo o número de administrações e/ou possibilitando uma variação não encontrada em medicamentos industrializados, sendo um facilitador para usuários de vários remédios.

Porém, sua aquisição demanda um prazo para manipulação, e dependendo da densidade e fluidez dos componentes pode ocorrer à duplicação da fórmula sem prévio aviso. Outro ponto crítico é a ausência de bula e a insuficiência de informações no rótulo dos medicamentos manipulados, que traz a falsa impressão de segurança, de inexistência de efeitos adversos. Embora tramite na Câmara o projeto de lei federal 856/07 que prevê modificação deste quadro, apenas no estado do Paraná, desde janeiro, a conduta de emitir bula já é lei.

O medicamento industrializado, por sua vez, conta com bula padronizada, maior tempo de conservação do princípio ativo e disposição imediata. Outro advento deste está previsto na Lei do fracionamento de 2006, que possibilita o fracionamento da embalagem original, ou seja, a dispensação na quantidade exata estabelecida pela prescrição médica. Com esta prática evita-se que o usuário mantenha sobras de medicamentos em casa, diminuindo a possibilidade de efeitos adversos e intoxicações derivados da automedicação, importante para promover o uso racional de medicamentos, e reduz o impacto ambiental decorrente do descarte indevido. Acrescente-se, ainda, que as apresentações fracionáveis devem representar melhor custo-benefício para o consumidor, conforme a legislação vigente.

Neste contexto, ambos os ramos contam com características favoráveis a um tratamento sob medida, de modo a promover à adesão terapêutica, atuando sob rígidos parâmetros segundo a Portaria 3.916/98, de modo a garantir sua qualidade, segurança, efetividade e promoção do seu uso seguro e racional.

Suzana Silva de Oliveira - 8º semestre de Farmácia

Referências bibliográficas
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Medicamentos fracionados. Brasília: Anvisa, 2010.

CRF - SP. Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo.  História da Farmácia. São Paulo: CRF, 2010. Disponível em: <http://portal.crfsp.org.br/historia-da-farmacia-.html>. Acesso em: 06 mar. 2013.

CRÓSTA, V. M. D. Gerenciamento e qualidade em empresas de pequeno porte: um estudo de caso no segmento de farmácia de manipulação. Campinas: Instituto de matemática, estatística e computação científica, 2000.

CUKIER, Rubens; SILVA, Roque Orlando da. A obtenção da vantagem competitiva medida pela análise de gap da qualidade de serviços: estudo de caso de uma farmácia de manipulação. Campo Limpo Paulista: Revista de Tecnologia Aplicada v.1, n.1, p.53-70; 01-04 de 2012.

GUIMARÃES, Kátia Fiorentini. Qualificações de fornecedores de medicamentos no âmbito hospitalar. Rio de Janeiro: VII Congresso Nacional de Excelência em Gestão, 12 e 13 ago, 2011.

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