O surto de ebola na África está trazendo muitas dúvidas e
questionamentos. A autorização do uso dos medicamentos, até então em caráter
experimental, deu a sensação de que eles somente surgiram quando americanos e
europeus foram afetados pelos vírus. A parte de informações que não se têm
efetivamente acesso, há certos fatos que parecem ser coerentes com
procedimentos propostos para o lançamento de um novo medicamento.
Todo medicamento tem de passar por várias fases de pesquisa
antes de ser liberado para uso comercial. Esses procedimentos são consagrados
pela ciência, sendo importante iniciar-se, obrigatoriamente, em células ou
elementos não vivos. Quando houver conhecimento suficiente, liberam-se os estudos
com animais de todos tipos, como camundongos, ratos, cães, ou outros. Para o ebola,
os testes estavam sendo em macacos.
Com o conhecimento adquirido com os estudos nos animais, mais
experimentos precisam ser realizados em pessoas voluntárias e antes de ser
liberado para uso comercial. Esses testes, divididos em três fases, serão
capazes de determinar se o medicamento é seguro para humanos, qual a melhor
dose e forma de usar, além conhecer as reações adversas específicas nas pessoas.
Somente após tudo isso bem documentado, as agências regulatórias dos países
aprovam o uso desses medicamentos em seus países. Mesmo depois de lançado no
comércio, os estudos sobre os medicamentos prosseguem detectando-se novas
reações que podem surgir em circunstâncias não previstas.
Em situações específicas, como a que estamos vivendo com o
ebola, as autoridades permitem que o uso dos medicamentos seja liberado antes
de totalmente testados. No caso do ebola, com a mortalidade podendo atingir
90%, são aceitáveis riscos maiores provenientes do medicamento, diferentemente
de outras doenças. Em uma situação semelhante, o Brasil precisou liberar
previamente vacinas contra gripe H1N1 que não estavam totalmente testadas.
Naquele caso porém, os testes já estavam mais avançados e, na eminência da
epidemia de gripe, considerou-se mais prudente a liberação.
Os testes são importantes porque, mesmo o sucesso aparente
com os dois norte-americanos que a substância usada contra o ebola trouxe, ainda
esta não pode ser considerada aprovada. Isso porque os
seres humanos não são iguais, assim algumas coisas podem dar certo para uns e
para outros não. Quando testados em um número maior de pessoas, a segurança e a
eficácia da substância testada serão definidas pelo tipo de resposta que
acontecer na maioria e que nunca será de 100%. Essa margem de segurança tem de ser
definida em função da gravidade da doença. É sempre uma relação entre o risco
de a pessoa sofrer sem o medicamento e o benefício que ele trará, mesmo
considerando-se suas reações adversas.
Se ainda tiver dúvidas, encaminhe-as para o Centro de
Informações sobre Medicamentos (CIM) do curso de Farmácia da UniSantos. O
contato pode ser pelo e-mail cim@unisantos.br ou por carta endereçada ao CIM,
avenida Conselheiro Nébias, 300, 11015-002.
Prof. Dr Paulo Angelo Lorandi, farmacêutico pela Faculdade
de Ciências Farmacêuticas-USP (1981), especialista em Homeopatia pelo IHFL
(1983) e em Saúde Coletiva pela UniSantos (1997), mestre (1997) e doutor (2002)
em Educação (Currículo) pela PUCSP. Professor titular da UniSantos. Sócio
proprietário da Farmácia Homeopática Dracena.
Nenhum comentário:
Postar um comentário