quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Pílula do dia seguinte

Popularmente conhecido como pílula do dia seguinte, o contraceptivo de  emergência - CE - é o único método hormonal de prevenção da gravidez empregado após a relação sexual desprotegida. O método consiste no uso de uma única e alta dose hormonal, aproximadamente 25 vezes maior que a encontrada em contraceptivos orais de uso diário, que atua principalmente inibindo ou retardando a ovulação e prejudicando a mobilidade dos espermatozoides no útero. Seu uso é indicado para casos em que a relação sexual aconteceu sem uso de qualquer método anticonceptivo, também devido a falha conhecida ou presumida do método usado rotineiramente ou em decorrência de violência sexual.

Em 2004, diversos estudos descartaram a existência de um mecanismo de inibição na implantação do óvulo fecundado no endométrio, tema polêmico do ponto de vista ideológico por anos, pois impedir este movimento de nidação do ovo seria considerado abortivo por algumas religiões, o quê representaria um impeditivo de utilização. Os métodos de contracepção de emergência não são abortivos por seu efeito ser anterior à fecundação e, comprovadamente, não tem efeito no ovo pré-implantado.

Sua eficácia é incontestável, porém quanto mais tempo se passa entre o coito e a administração, menos eficaz é este método. A administração deve ocorrer preferencialmente em 12 horas, mas pode ocorrer em até 72 horas após a relação desprevenida. A partir daí, as chances de gravidez aumentam em 50%. A introdução do DIU de cobre até 120 horas (cinco dias) após a relação sexual pode ser empregado como contracepção emergencial, sendo uma prática exclusivamente médica. É aconselhável um método contraceptivo de barreira (camisinha ou diafragma) até a próxima menstruação.

Há evidências de uso repetido principalmente por mulheres de atividade sexual esporádica. Essa prática deve ser ocasional, por existirem métodos mais eficazes para uso rotineiro, por induzir alterações fisiológicas importantes e efeitos adversos com maior frequência. Até o momento, não existem estudos sobre os riscos de uso regular deste método ou de teratogenicidade do feto.

A proposta de uso do CE originou-se do Consórcio Internacional de Anticoncepção de Emergência, criado em 1995, e pretende ampliar o acesso ao contraceptivo de emergência, mais disponíveis em alguns países desenvolvidos, por promover redução nas taxas de gravidez precoce ou imprevista e aborto ilegal e inseguro. A aquisição no Brasil requer prescrição médica. A disponibilização do método vem ao encontro das metas de Planejamento Familiar que visam reduzir a prática de esterilização cirúrgica feminina (considerada abusiva no país), bem como os índices de aborto provocado. O aborto no Brasil é legalizado apenas quando a gestação traz risco de morte à mulher ou, desde o ano 2000, quando é fruto de violência sexual. O aborto realizado clandestinamente em condições precárias causa prejuízo à saúde, podendo acometer a óbito, e seus agravos figuram no ranking de maiores causas de internação no SUS.

O uso de certos medicamentos pode reduzir a eficácia dos contraceptivos hormonais (VIDE Anticoncepcionais e interações). O sangramento uterino é esperado dentro dos 21 dias subsequentes ao uso do método, como costuma ocorrer em 98% das mulheres. Embora o próximo período menstrual possa adiantar ou atrasar, decorridos 28 dias recomenda-se a investigação de gravidez. Os efeitos adversos mais comuns são náusea, vômito e diarreia. Também são relatadas dores nos seios e abdômen, fadiga, cefaleia, tontura e irregularidades menstruais. Surgindo qualquer dor abdominal baixa ou menstruação subsequente em 3 a 4 semanas com característica irregular (suave, intensa, breve ou ausente) sugere busca de assistência médica.

SUZANA SILVA DE OLIVEIRA – 10º semestre de Farmácia

Referências:
CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA (CFF). Centro Brasileiro de Informação sobre Medicamentos (Cebrim). Nota Técnica Cebrim/CFF Nº 03/2009. Uso Racional de Contracepção Hormonal de Emergência. Brasília: CFF, 2009.

FIGUEIREDO, R.; BASTOS, S.. Contracepção de Emergência: atualização, abordagem, adoção e impactos em estratégias de DST/AIDS. São Paulo: Instituto de Saúde, 2008. 52 p.

LUBIANCA, J. N.; WANNMACHER, L.. Ministério da Saúde. OPAS. OMS. Uso Racional de Medicamentos: temas selecionados. Uso Racional de Contraceptivos Hormonais Orais. Brasília: MS, n. 10, pág. 1-16, 2011.

PAIVA, S. P.; BRANDÃO, E. R.. Contracepção de emergência no contexto das farmácias: revisão crítica de literatura. Physis Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 22, n. 1, pag. 17-34, 2012.

SOCIEDADE PORTUGUESA DE GINECOLOGIA. Sociedade Portuguesa da Contracepção. Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução. Consenso sobre contracepção 2011. In: Reunião de Consenso Nacional sobre Contracepção. Estoril: Frist News, 2011.


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