Alguns pensadores afirmam que há
um processo de “medicalização” da sociedade moderna, significando que as
soluções para certos problemas próprios ao ser humano passam por intensa
intervenção médica e de medicamentos. Uma dessas situações é a depressão,
considerada por alguns como o “mal do século XXI”. É difícil realizar o diagnóstico
da depressão entre os limites de um estado de tristeza e um real transtorno
psiquiátrico.
O processo diagnóstico é dado a partir da frequência e da
intensidade em que determinados sentimentos acontecem em nossa vida. Porém, a
crítica que se faz é que nem sempre se leva em conta o contexto pessoal, social
e econômico da vida e que podem provocar ou intensificar esses sentimentos. Por outro lado, a depressão
corretamente diagnosticada pode ser incapacitante, promovendo baixa qualidade
de vida para a pessoa acometida. Uma vez diagnosticada, a terapêutica bem
conduzida traz bom controle da doença.
Existem quatro tipos de antidepressivos
e, em cada tipo, podem ser escolhidas muitas substâncias diferentes. De um modo
geral esses antidepressivos têm a mesma eficácia e o mesmo tempo de resposta
terapêutica, porém alguns apresentam a vantagem de ter menos reações adversas. Apesar de terem o mesmo efeito, a resposta ao medicamento é pessoal e o médico poderá
precisar substituir o medicamento a partir da experiência e do resultado no uso.
Uma vez encontrado o melhor medicamento, o paciente precisa ser aderente à
terapêutica para diminuir o risco de recaída, o que pode acontecer às vezes,
mesmo com o tratamento bem conduzido. Essa recaída não tem uma explicação
clara, até o momento. Em situações mais específicas, menos comum, é preciso
usar mais de um medicamento. Outras estratégias terapêuticas são também bem
indicadas: psicoterapia, massagem e exercícios físicos. Para os casos agudos,
há também intervenções mais críticas.
A depressão também pode ocorrer
em adolescentes (em até 8% dos jovens) e em crianças (em cerca de 2%), mas
nesses casos os medicamentos antidepressivos acarretam maiores riscos ao
induzir ideias suicidas, ocasionando a morte em 4% delas. A melhor opção para
essa faixa etária são outras formas de terapia.
Em uma visão bastante errônea, um
desses medicamentos antidepressivos já foi chamado de “pílula da felicidade”. A
depressão é um processo fisiológico em que algumas substâncias estão diminuídas
em nosso cérebro, que nos incapacita para a vida, justificando o uso de
medicamentos. A tristeza, por outro lado, pode fazer parte de nossa vida em
função de fatos e não por ser uma doença. Assim, não há pílula que resolva.
Prof. Dr Paulo Angelo Lorandi,
farmacêutico pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas-USP (1981), especialista
em Homeopatia pelo IHFL (1983) e em Saúde Coletiva pela Unisantos (1997),
mestre (1997) e doutor (2002) em Educação (Currículo) pela PUCSP. Professor
titular da UniSantos. Sócio proprietário da Farmácia Dracena.
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