segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Depressão e antidepressivos

Alguns pensadores afirmam que há um processo de “medicalização” da sociedade moderna, significando que as soluções para certos problemas próprios ao ser humano passam por intensa intervenção médica e de medicamentos. Uma dessas situações é a depressão, considerada por alguns como o “mal do século XXI”. É difícil realizar o diagnóstico da depressão entre os limites de um estado de tristeza e um real transtorno psiquiátrico. 


O processo diagnóstico é dado a partir da frequência e da intensidade em que determinados sentimentos acontecem em nossa vida. Porém, a crítica que se faz é que nem sempre se leva em conta o contexto pessoal, social e econômico da vida e que podem provocar ou intensificar esses sentimentos. Por outro lado, a depressão corretamente diagnosticada pode ser incapacitante, promovendo baixa qualidade de vida para a pessoa acometida. Uma vez diagnosticada, a terapêutica bem conduzida traz bom controle da doença. 

Existem quatro tipos de antidepressivos e, em cada tipo, podem ser escolhidas muitas substâncias diferentes. De um modo geral esses antidepressivos têm a mesma eficácia e o mesmo tempo de resposta terapêutica, porém alguns apresentam a vantagem de ter menos reações adversas. Apesar de terem o mesmo efeito, a resposta ao medicamento é pessoal e o médico poderá precisar substituir o medicamento a partir da experiência e do resultado no uso. 

Uma vez encontrado o melhor medicamento, o paciente precisa ser aderente à terapêutica para diminuir o risco de recaída, o que pode acontecer às vezes, mesmo com o tratamento bem conduzido. Essa recaída não tem uma explicação clara, até o momento. Em situações mais específicas, menos comum, é preciso usar mais de um medicamento. Outras estratégias terapêuticas são também bem indicadas: psicoterapia, massagem e exercícios físicos. Para os casos agudos, há também intervenções mais críticas.

A depressão também pode ocorrer em adolescentes (em até 8% dos jovens) e em crianças (em cerca de 2%), mas nesses casos os medicamentos antidepressivos acarretam maiores riscos ao induzir ideias suicidas, ocasionando a morte em 4% delas. A melhor opção para essa faixa etária são outras formas de terapia.

Em uma visão bastante errônea, um desses medicamentos antidepressivos já foi chamado de “pílula da felicidade”. A depressão é um processo fisiológico em que algumas substâncias estão diminuídas em nosso cérebro, que nos incapacita para a vida, justificando o uso de medicamentos. A tristeza, por outro lado, pode fazer parte de nossa vida em função de fatos e não por ser uma doença. Assim, não há pílula que resolva.


Prof. Dr Paulo Angelo Lorandi, farmacêutico pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas-USP (1981), especialista em Homeopatia pelo IHFL (1983) e em Saúde Coletiva pela Unisantos (1997), mestre (1997) e doutor (2002) em Educação (Currículo) pela PUCSP. Professor titular da UniSantos. Sócio proprietário da Farmácia Dracena.

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