segunda-feira, 31 de outubro de 2016

O porquê de se alterar as dosagens infantis

A prescrição racional de medicamentos deve considerar o emprego de dose capaz de gerar efeito terapêutico (eficácia) com mínimos efeitos tóxicos (segurança). Por isso, é muito importante considerar as características fisiológicas do paciente, principalmente em se tratando de crianças. Apesar de fisicamente serem semelhantes, as crianças não são adultos em miniatura. A eficácia e segurança da farmacoterapia, nesta fase inicial da vida, requerem compreensão completa do desenvolvimento biológico humano e dos processos farmacocinéticos.

A farmacocinética é compreendida pelos aspectos de absorção, metabolização, distribuição e excreção do medicamento. Alterações em qualquer uma dessas fases pode acarretar consequências mais graves. Em nível de absorção, por exemplo, existem alterações no pH estomacal que podem alterar a biodisponibilidade do medicamento. Biodisponibilidade é a quantidade de medicamento que irá alcançar a corrente sanguínea para realizar seu efeito. Então, medicamentos que necessitam de meio ácido para serem absorvidos serão fortemente afetados.

A distribuição dos medicamentos no organismo é dependente da composição corporal (água e gordura, principalmente). Por isso, a solubilidade do medicamento deve ser considerada, pois poderá diminuir o efeito farmacológico, levando a utilização de dose adicional e podendo causar toxicidade. Um ponto importante a se lembrar é que a barreira hematoencefálica nos recém-nascidos é incompleta, o que permite maior penetração de medicamentos no sistema nervoso central.

A parte da metabolização é a mais complexa. Cada medicamento é metabolizado por uma enzima específica. A formação dessas enzimas é importantíssima, pois sem elas não há metabolização e o medicamento pode se acumular no organismo. A quantidade de algumas enzimas pode ser até quatro vezes menor nas crianças do que em adultos.

O objetivo principal da metabolização é facilitar a excreção. Logo, se há falha na metabolização, a excreção estará comprometida. O funcionamento dos rins é de extrema importância no processo de excreção, e este só estará completamente desenvolvido em torno dos três anos de idade.

Devido a todas essas particularidades, não existe um consenso sobre quais seriam as doses adequadas para crianças. E, claro, aquela história de meia dose não existe. O ideal é sempre seguir as doses recomendadas pelo médico, de acordo com a bula, e consultar o farmacêutico para maiores orientações.

Thaís Damin Lima - 8º semestre do curso de Farmácia

Referências:

BARTELINK, I. H.; RADEMAKER, C. M. A.; SCHOBBEN, A. F. A. M. et al. Guidelines on paediatric dosing on the basis of developmental physiology and pharmacokinetic considerations. Clin. Pharmacokinet., Auckland, Nova Zelândia, v. 45, n.11, p. 1077-1097, 2006.

KEARNS, G. L.; ABDEL-RAHMAN, S. M.; ALANDER, S. W. et al. Developmental pharmacology: drug disposition, action, and therapy in infants and children. N. Engl. J. Med., Londres, v. 349, p. 1157-1167, 2003.

JOHNSON, T. N. The development of drug metabolising enzymes and their influence on the susceptibility to adverse drug reactions in children. Toxicology, Limerick, Irlanda, v.192, p. 37-48, 2003.

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