A prescrição racional de
medicamentos deve considerar o emprego de dose capaz de gerar efeito terapêutico (eficácia) com mínimos efeitos tóxicos (segurança). Por isso, é
muito importante considerar as características fisiológicas do paciente,
principalmente em se tratando de crianças. Apesar de fisicamente serem
semelhantes, as crianças não são adultos em miniatura. A eficácia e segurança
da farmacoterapia, nesta fase inicial da vida, requerem compreensão completa do
desenvolvimento biológico humano e dos processos farmacocinéticos.
A farmacocinética é compreendida
pelos aspectos de absorção, metabolização, distribuição e excreção do
medicamento. Alterações em qualquer uma dessas fases pode acarretar
consequências mais graves. Em nível de absorção, por exemplo, existem
alterações no pH estomacal que podem alterar a biodisponibilidade do
medicamento. Biodisponibilidade é a quantidade de medicamento que irá alcançar
a corrente sanguínea para realizar seu efeito. Então, medicamentos que
necessitam de meio ácido para serem absorvidos serão fortemente afetados.
A distribuição dos medicamentos
no organismo é dependente da composição corporal (água e gordura,
principalmente). Por isso, a solubilidade do medicamento deve ser considerada,
pois poderá diminuir o efeito farmacológico, levando a utilização de dose
adicional e podendo causar toxicidade. Um ponto importante a se lembrar é que a
barreira hematoencefálica nos recém-nascidos é incompleta, o que permite maior
penetração de medicamentos no sistema nervoso central.
A parte da metabolização é a mais
complexa. Cada medicamento é metabolizado por uma enzima específica. A formação
dessas enzimas é importantíssima, pois sem elas não há metabolização e o
medicamento pode se acumular no organismo. A quantidade de algumas enzimas pode
ser até quatro vezes menor nas crianças do que em adultos.
O objetivo principal da
metabolização é facilitar a excreção. Logo, se há falha na metabolização, a
excreção estará comprometida. O funcionamento dos rins é de extrema importância
no processo de excreção, e este só estará completamente desenvolvido em torno
dos três anos de idade.
Devido a todas essas
particularidades, não existe um consenso sobre quais seriam as doses adequadas
para crianças. E, claro, aquela história de meia dose não existe. O ideal é
sempre seguir as doses recomendadas pelo médico, de acordo com a bula, e
consultar o farmacêutico para maiores orientações.
Thaís Damin Lima - 8º semestre do curso de Farmácia
Referências:
BARTELINK, I. H.; RADEMAKER, C. M.
A.; SCHOBBEN, A. F. A. M. et al. Guidelines on paediatric dosing on the basis of developmental physiology
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v. 45, n.11, p. 1077-1097, 2006.
KEARNS, G. L.; ABDEL-RAHMAN, S. M.; ALANDER, S.
W. et al. Developmental pharmacology: drug disposition, action, and therapy in
infants and children. N. Engl. J. Med., Londres, v. 349, p. 1157-1167, 2003.
JOHNSON, T. N. The development of drug
metabolising enzymes and their influence on the susceptibility to adverse drug
reactions in children. Toxicology, Limerick, Irlanda, v.192, p. 37-48,
2003.
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