segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Substâncias heroicas

As drogas heroicas são aquelas que contêm princípios tóxicos, das quais resultam medicamentos ativos e que devem ser empregadas em doses baixas como, por exemplo, beladona, dedaleira, ópio e outras. O tratamento utilizando tais substâncias é conhecido como prática da medicina heroica, chamada dessa forma por causa das medidas extremas por vezes empregadas no esforço para tratar doenças.

Em meados do século XIV, essas substâncias também eram utilizadas como veneno. A família botânica das solanáceas contém exemplos. Uma de suas espécies é a Brugmansia, que possui alcaloides com propriedades psicoativas, como a atropina e a escopolamina. De forma geral, os nomes das substâncias estavam vinculados aos seus efeitos. Sono e morte são os significados principais dos nomes que essas substâncias receberam ao longo dos anos.

A brugmansia é uma planta cujas bagas detém, principalmente, propriedades psicoativas consideráveis e que traçam, na história da antiga Europa, um rastro milenar na cultura e na vida das pessoas.

Ao examinar os alcaloides da Belladona, quais sejam, escopolamina, atropina e hiosciamina, vemos que atuam sobre o sistema nervoso parassimpático, aquele responsável por “acalmar” o corpo após uma situação de emergência. A atropina e a escopolamina produzem em doses pequenas (até 1mg) a diminuição do ritmo respiratório e cardíaco e a dilatação das pupilas. Em doses mais elevadas (a partir de 2mg), o ritmo cardíaco acelera, notando-se cefaleia, distúrbios de discurso, delírio.

A Belladona era utilizada na medicina como antídoto para o envenenamento conhecido por ergotismo causado por um fungo, que parasita o grão do centeio e outros cereais. Os sintomas do ergotismo, nos seres humanos, são semelhantes aos do LSD.

Atualmente, essas substâncias foram bastante estudadas e são utilizadas na homeopatia e alopatia. A beladona, por exemplo, na homeopatia pode ser indicada para febres e na fitoterapia para processos inflamatórios. A escopolamina e atropina são usadas na alopatia para cólicas intestinais e mal de Parkinson, respectivamente. Os efeitos não mudaram ou deixaram de existir, apenas se alterou a forma de utilização por questões culturais e científicas.

Na mitologia grega, as moiras eram três irmãs que determinavam o destino dos deuses e dos seres humanos. Essas substâncias estão ligadas às moiras devido ao torpor e a sonolência, e que conferem aparência de morte, quando em dosagens baixas, assim como a dilatação da pupila.

Na Itália, utilizavam umas gotas de sumo extraído das bagas aplicadas diretamente nos olhos, como um colírio, pois tinham como efeito o embelezamento do olhar, através da dilatação das pupilas. Também houve a utilização nas faces, de forma a obter uma palidez sensual, para a época.

Na mitologia nórdica, as Valquírias eram deidades menores, servas de Odin, e cederam seu nome à Belladona, devido seu significado. Elas eram enviadas de Odin e, de início, representavam espíritos sinistros que, em seu nome, pairavam sobre os campos de batalha, escolhendo os que no dia seguinte iriam, heroicamente, morrer. Na mitologia nórdica tardia, assumem o papel de belas donzelas-cisne, escudeiras de Odin que servem no Valhalla hidromel e javali do caldeirão eterno. Valhalla é um grande salão, comandado por Odin, para onde metade dos que morrem em batalha são levados.

Thaís Damin Lima - 8º semestre do curso de Farmácia

Referências:

VICENTE, F. N. Bruxas, Judeus, Centeio Louco e Beldades de Veneza: Bruxas, Judeus, Centeio Louco e Beldades de Veneza: Destinos e Perdas de uma Memória Europeia de Drogas Esquecidas, Interacções, n. 3, p. 91-105, 2002.

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