As drogas heroicas são aquelas
que contêm princípios tóxicos, das quais resultam medicamentos ativos e que
devem ser empregadas em doses baixas como, por exemplo, beladona, dedaleira,
ópio e outras. O tratamento utilizando tais substâncias é conhecido como
prática da medicina heroica, chamada dessa forma por causa das medidas extremas
por vezes empregadas no esforço para tratar doenças.
Em meados do século XIV, essas
substâncias também eram utilizadas como veneno. A família botânica das
solanáceas contém exemplos. Uma de suas espécies é a Brugmansia, que possui
alcaloides com propriedades psicoativas, como a atropina e a escopolamina. De
forma geral, os nomes das substâncias estavam vinculados aos seus efeitos. Sono
e morte são os significados principais dos nomes que essas substâncias
receberam ao longo dos anos.
A brugmansia é uma planta cujas
bagas detém, principalmente, propriedades psicoativas consideráveis e que
traçam, na história da antiga Europa, um rastro milenar na cultura e na vida
das pessoas.
Ao examinar os alcaloides da
Belladona, quais sejam, escopolamina, atropina e hiosciamina, vemos que atuam
sobre o sistema nervoso parassimpático, aquele responsável por “acalmar” o
corpo após uma situação de emergência. A atropina e a escopolamina produzem em
doses pequenas (até 1mg) a diminuição do ritmo respiratório e cardíaco e a
dilatação das pupilas. Em doses mais elevadas (a partir de 2mg), o ritmo
cardíaco acelera, notando-se cefaleia, distúrbios de discurso, delírio.
A Belladona era utilizada na
medicina como antídoto para o envenenamento conhecido por ergotismo causado por
um fungo, que parasita o grão do centeio e outros cereais. Os sintomas do
ergotismo, nos seres humanos, são semelhantes aos do LSD.
Atualmente, essas substâncias
foram bastante estudadas e são utilizadas na homeopatia e alopatia. A beladona,
por exemplo, na homeopatia pode ser indicada para febres e na fitoterapia para
processos inflamatórios. A escopolamina e atropina são usadas na alopatia para
cólicas intestinais e mal de Parkinson, respectivamente. Os efeitos não mudaram
ou deixaram de existir, apenas se alterou a forma de utilização por questões
culturais e científicas.
Na mitologia grega, as moiras
eram três irmãs que determinavam o destino dos deuses e dos seres humanos.
Essas substâncias estão ligadas às moiras devido ao torpor e a sonolência, e
que conferem aparência de morte, quando em dosagens baixas, assim como a
dilatação da pupila.
Na Itália, utilizavam umas gotas
de sumo extraído das bagas aplicadas diretamente nos olhos, como um colírio,
pois tinham como efeito o embelezamento do olhar, através da dilatação das
pupilas. Também houve a utilização nas faces, de forma a obter uma palidez
sensual, para a época.
Na mitologia nórdica, as Valquírias
eram deidades menores, servas de Odin, e cederam seu nome à Belladona, devido
seu significado. Elas eram enviadas de Odin e, de início, representavam
espíritos sinistros que, em seu nome, pairavam sobre os campos de batalha,
escolhendo os que no dia seguinte iriam, heroicamente, morrer. Na mitologia
nórdica tardia, assumem o papel de belas donzelas-cisne, escudeiras de Odin que
servem no Valhalla hidromel e javali do caldeirão eterno. Valhalla é um grande
salão, comandado por Odin, para onde metade dos que morrem em batalha são
levados.
Thaís Damin Lima - 8º semestre do curso de Farmácia
Referências:
VICENTE, F. N. Bruxas, Judeus, Centeio Louco e Beldades de
Veneza: Bruxas, Judeus, Centeio Louco e Beldades de Veneza: Destinos e Perdas
de uma Memória Europeia de Drogas Esquecidas, Interacções, n. 3, p. 91-105,
2002.
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