segunda-feira, 2 de outubro de 2017

A cura do câncer

O câncer é uma doença que provoca medo por sua associação com a morte, seja ela real ou não. De outro modo, essa condição estimula um sentimento inverso, o da esperança de surgir a cura e de vitória sobre um inimigo cruel. Quando a doença atinge a pessoa ou um ente querido causa uma fragilidade emocional que permite espaço para decisões nem sempre racionais. Nesses tempos de internet, nem sempre as informações que circulam são cientificamente comprovadas ou derivadas do bom senso.

Apesar de tratarmos o câncer pelo singular, na realidade, há mais de cem tipos diferentes da doença, com características próprias de evolução e incidência. E mesmo um câncer específico comporta-se diferentemente dependendo da fase da doença. Tudo começa em uma única célula, quando esta tem a sua estrutura genética alterada por um vírus, radiação ou substância química, perdendo o controle no ritmo de divisão. Multiplicando-se em velocidade aumentada e resultando na desorganização do tecido.

Essa multiplicação celular desenfreada invade outros tecidos, penetrando em todas as camadas do órgão, comprometendo suas funções. Na progressão, células cancerígenas se desgarram do tumor inicial, vagam pela circulação linfática e sanguínea, instalando-se em outros tecidos/ órgãos. Esse estágio, de maior gravidade, é denominado metástase. As chances de cura são maiores quanto mais precoce é o diagnóstico da condição do câncer.

O câncer é considerado uma doença gerada pelo ambiente. Hábitos alimentares, o uso do tabaco, bebidas alcoólicas em excesso, poluição, radiação ambiente e vírus são os principais fatores desencadeadores. Assim, a prevenção é uma forma importante para redução da incidência. Já o envelhecimento da população aumenta o número dos casos.

Quanto mais velho o organismo, menor a capacidade de defesa e maior foi o tempo de exposição aos fatores desencadeantes. Como terapêutica, é possível cirurgia, radioterapia ou medicamentos. Para essa última, muitas substâncias estão sendo lançadas no mercado, principalmente na tentativa de reduzir as reações adversas, que são muitas intensas.

Para ser lançado como medicamento, uma substância tem de ser bastante testada. Alguns resultados positivos não o habilitam a ser liberado. Pesquisas sérias e bem estruturadas são necessárias para garantir o uso seguro em condições bem estabelecidas. Cada tipo de câncer comporta-se diferentemente, assim como cada estágio da doença exige uma ação coerente. Nesse contexto, as informações que estão sendo veiculadas sobre o efeito terapêutico da fosfoetanolamina contra o câncer precisam ser vistas com muitas reservas.

 A substância não tem registro de pesquisa na Anvisa, primeiro passo para se consolidar o seu uso a partir dos resultados conseguidos. A própria USP, local onde a substância estava sendo distribuídas não tinha conhecimento desse fato. E quando se investiga sobre a substância nos meios acadêmicos, poucos resultados são encontrados, com pouco vínculo de estudos sobre seu uso contra o câncer. Pode ser uma boa estratégia? Não sabemos, porque as pesquisas não existem ou não são divulgadas. A despeito do desespero e das incertezas que a doença possa trazer, precisamos agir com cautela e técnica.

Se ainda tiver dúvidas, encaminhe-as para o Centro de Informações sobre Medicamentos (CIM) do curso de Farmácia da Unisantos. O contato pode ser pelo e-mail cim@unisantos.br ou por carta endereçada ao CIM, avenida Conselheiro Nébias, 300, 11015-002.

Prof. Dr Paulo Angelo Lorandi, farmacêutico pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas-USP (1981), especialista em Homeopatia pelo IHFL (1983) e em Saúde Coletiva pela Unisantos (1997), mestre (1997) e doutor (2002) em Educação (Currículo) pela PUCSP. Professor titular da UniSantos. Sócio proprietário da Farmácia Homeopática Dracena.


*Publicado originalmente pelo Jornal da Orla 

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