Nos dias de hoje, são necessários exaustivos testes
laboratoriais e em humanos voluntários antes de se lançar comercialmente um
medicamento, permitindo-se o uso. São gastos centenas de milhões de dólares
durante dez a quinze anos de trabalho para que o medicamento esteja disponível.
Por outro lado, existe um conjunto de plantas usadas por muito tempo como
medicamentos, algumas até há séculos, mas ainda não se tem certezas científicas
sobre suas propriedades terapêuticas. Muitas vezes, a ausência de pesquisa se
dá por não haver perspectiva em seu retorno financeiro.
Do mesmo modo, a Anvisa exige muitos testes para que um
medicamento de origem vegetal seja lançado no Brasil. Porém, esse órgão de
fiscalização pretende lançar uma nova norma
para permitir que medicamentos tradicionais possam ser registrados. Essa medida deve permitir que plantas medicinais brasileiras, bem
conhecidas em seu uso popular, mas sem comprovação
científica, sejam mais bem aproveitadas pela indústria nacional. A comprovação
da efetividade e da segurança de seu uso poderá ser atestada por meio de
relatos do uso tradicional ou por referências em livros clássicos de uso de
plantas medicinais.para permitir que medicamentos tradicionais possam ser registrados. Essa medida deve permitir que plantas medicinais brasileiras, bem
O mundo todo faz uso desse tipo de medicamento. Na Europa, o
uso de medicamentos tradicionais à base de plantas está autorizado desde 2011.
Para tanto, a planta tem de ter sido utilizada por, pelo menos, 30 anos e,
esses medicamentos, não poderão ser aplicados pela via injetável. O uso de
plantas na China e a Índia, apenas pelo conhecimento cultural, é milenar.
As plantas medicinais como um todo, não apenas a de uso
tradicional, têm um mercado mundial estimado da ordem de US$ 55 bilhões. Esses
valores representam apenas 3% do mercado total de medicamentos. No Brasil, os
medicamentos baseados em plantas movimentam mais de R$ 700 milhões por ano,
sendo que o volume de dinheiro envolvido dobrou nos últimos dez anos.
Além da dimensão econômica, o fortalecimento do uso tradicional
de plantas é uma forma de se garantir a biodiversidade. Explorar os biomas
(espaço uniforme onde podemos encontrar uma fauna e flora características) de
forma sustentável é outro benefício indireto do uso das plantas tradicionais. E
um grupo de pessoas, raizeiros e mateiros que indicam o uso das plantas pelo
Brasil inteiro, vivem à custa do conhecimento cultural transmitido entre as
gerações. Conhecimento originado das culturas africana, indígena e europeia dos
primeiros imigrantes.
Mas atenção: o uso de plantas não é isento de riscos.
Primeiro, porque a transmissão oral do conhecimento pode ser falha e a
informação original fidedigna pode ter sido modificada. Segundo porque o trato
com a planta, seja o cultivo, extração, secagem ou conservação, precisa ser
controlado, senão podem ocorrer contaminação e perda de efetividade. E acima de
tudo, o uso incorreto das plantas pode provocar intoxicações. Apesar do uso das
plantas ser isento de prescrição médica, somente ao médico cabe o diagnóstico
das doenças. Converse a respeito com o farmacêutico, ele pode lhe orientar em
relação aos riscos.
Se ainda tiver dúvidas, encaminhe sua dúvida para o Centro
de Informações sobre Medicamentos (CIM) do curso de Farmácia da UniSantos. O
contato pode ser pelo e-mail cim@unisantos.br ou por carta endereçada ao CIM,
avenida Conselheiro Nébias, 300, 11015-002.
Prof. Dr. Paulo Angelo Lorandi, farmacêutico pela Faculdade
de Ciências Farmacêuticas-USP (1981), especialista em Homeopatia pelo IHFL
(1983) e em Saúde Coletiva pela UniSantos (1997), mestre (1997) e doutor (2002)
em Educação (Currículo) pela PUCSP. Professor titular da UniSantos. Sócio proprietário
da Farmácia Dracena.
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