O glaucoma é uma das principais causas de
cegueira, não havendo cura após ter ser dado seu diagnóstico. O principal
mecanismo dessa doença é o aumento da pressão ocular dentro do olho. O globo
ocular é preenchido por um líquido em constante fluxo, assim como uma bola
cheia de água que provoca pressão sobre as paredes internas. Essa pressão deve
estar dentro de limites, caso contrário, pode provocar danos ao nervo óptico, o
qual é responsável por conduzir os impulsos nervosos necessários à visão.
Mesmo não possuindo cura, a progressão do
glaucoma pode ser controlada, evitando maiores comprometimentos. O principal
objetivo do tratamento é reduzir a pressão intraocular, seja diminuindo a
produção do líquido responsável por causar o aumento de pressão ou aumentando sua
circulação. Os medicamentos utilizados podem ser por via oral ou tópica, sendo essa
mais comum. Instilar (pingar) medicamentos pela via oftálmica tem a vantagem de
provocar menos efeitos sistêmicos (reações adversas pelo corpo).
Há um arsenal terapêutico bem consolidado para
seu tratamento, porém há estudos envolvendo a Cannabis sativa ou maconha. Essa planta é muito controversa,
provocando intenso debate entre os usuários recreativos e os profissionais da
saúde. O uso terapêutico da Cannabis
sativa possui extenso histórico, tendo indícios de seu uso desde 2700 a.C..
Tradicionalmente, já foi usada para tratar constipações, reumatismo, dores e
até mesmo malária.
Por outro lado, muitos estudos mostram os
efeitos deletérios sobre o SNC e, portanto, tornou-se uma droga ilícita no
Brasil, seguindo tratados internacionais. Essa polêmica ganha novos contornos,
na medida que alguns países têm liberado seu consumo de forma controlada. Mais
do que nunca, seu uso, as indicações terapêuticas e contraindicações tornaram-se
polêmicos nos últimos tempos.
De fato, a maconha possui diversas estruturas
químicas, denominadas canabinóides, como o canabidiol e o tetrahidrocanabinol, as
quais apresentam efeito farmacológico. Diversas pesquisas demonstram a
capacidade do Cannabis em produzir
respostas positivas para diversas indicações terapêuticas, como no aumento de
apetite, em glaucoma ou estados epilépticos.
No que se refere ao seu uso para o controle do
glaucoma, os canabinóides possuem resultados clínicos significativos, com o mecanismo
de ação já esclarecido. Mas ao se introduzir um novo medicamento no mercado, é
necessário analisar o benefício que ele trará em relação aos que já são utilizados.
Nessa condição, os canabinoides, quando comparado aos medicamentos já
utilizados, deixam de ser tão interessantes.
Apesar da maconha ter efeitos terapêuticos
comprovados, há de se considerar vários efeitos indesejados provocados e que
podem ser evitados ao se optar por outro medicamento. Sua principal desvantagem
são os efeitos psicoativos e que podem, inclusive, causar alucinações em
pacientes mais susceptíveis.
A Cannabis
sativa continua proscrita no Brasil, considerando-se a Portaria 344/98 e
sua regulamentação pela Agência de Vigilância Sanitária (ANVISA), porém já se
admite produtos derivados dessa planta, com restrições de concentrações para os
seus princípios ativos. A sua indicação deverá ser baseada na resposta a outros
medicamentos, como alternativa médica para a terapêutica. Pelo fato de haver polêmicas
sobre sua utilização, não deixe de esclarecer suas dúvidas com o médico ou
farmacêutico, pois é um assunto delicado e que deve ser tratado de maneira
crítica.
João
Gabriel Gouvêa da Silva – 6° semestre do curso de Farmácia
Referências:
BONFÁ, L. et al. Uso de canabinóides na dor crônica e em
cuidados paliativos. Rev. Bras. Anestesiol. Campinas, v.58, n.3, Maio 2008.
TOMIDA, I.; PERTWEE, R.G.; BLANCO-AZUARA, A. Cannabinoids and glaucoma. The British Journal of Ophthalmology. London,
v. 88, n.5, p.708-713, 2004.
MATOS, R.L.A, et al. O
Uso do Canabidiol no Tratamento da Epilepsia. Revista Virtual de Química. Rio de Janeiro, v. 9, n.2, 2017.
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