Dia 17 de setembro é o Dia
Nacional do Portador de Deficiência Visual. Para esses indivíduos, a
persistência e determinação são os caminhos para uma vida saudável,
independente e, principalmente, feliz. É isso que Verena de Lima Amaral, de 27
anos, exemplifica com maturidade e bom humor.
Decorrente de diabetes, Verena
teve um descolamento de retina e catarata total nos dois olhos e perdeu a visão
em 2011. O tratamento, como controle de insulina e monitoramento de glicemia,
não era seguido à risca por ela. Apesar de tomar a insulina, não fazia da maneira
correta ou até mesmo negligenciava os cuidados, em especial a alimentação.
Segundo Verena, junto com a diabetes tipo 1, descoberta aos oito anos, surgiu
uma compulsão alimentar pelo que não deveria comer – como doces e refrigerantes
em grandes quantidades –, além de não praticar exercícios.
Para ela, isso é resultado de uma
fraqueza do ser humano. “Quando diz que é proibido, parece que aquilo fica mexendo
com você. Antes de sofrer de diabetes nem ligava para doce. Não era simplesmente
dar de ombros, era uma fraqueza mais forte que a razão”, conta. Apesar do
alerta da médica endocrinologista, Verena conta que era necessário,
primeiramente, uma mudança nela mesma, o que não aconteceu na época. Hoje, faz
um controle disciplinado, monitorando e tomando insulina três vezes por dia,
sem abusar da alimentação.
O processo de perda de visão foi
gradual desde 2008, quando perdeu a visão do olho direito e desenvolveu alta
miopia no olho esquerdo, do qual se tornou baixa visão em 2009. Recuperou-se dessa
condição, mas a visão nunca mais foi a mesma. Em 2011, sentiu que não enxergava
mais as teclas do computador. De janeiro para fevereiro, a visão decaiu e, em
março, estagnou como está até hoje. Do olho direito não enxerga nada, mas ainda
tem percepção de claridade no olho esquerdo.
JORNALISMO - A adaptação à nova realidade foi difícil. Além disso,
ver os colegas da turma de 2011 Do curso de Jornalismo da UniSantos se formarem
e, ela, reclusa, foi doloroso. “Foi um divisor de águas. Tive que repensar numa
reabilitação e numa vida melhor. E continuar vivendo. Se não perdi minha vida,
tenho que continuar vivendo”, conta. Foi um momento para digerir e aceitar tudo
o que aconteceu. Com esse pensamento, entrou para o Lar da Moças Cegas. Verena conta
que outra dificuldade foi a aceitação da bengala, por ser o símbolo do
deficiente visual. ”Mas eu transpus isso. Hoje desfilo e tenho uma bengala de
cada cor”.
Da família, omitiu o quanto pode
a perda da visão, pelo constrangimento. Apesar de, inicialmente, alguns
comentários sobre ela não ter se cuidado, hoje só recebe apoio, admiração e comentários
cheios de orgulho. Verena conta que a mãe teve dificuldade em aceitá-la de
bengala. “O desconhecimento da família é normal para qualquer deficiente. Às vezes
a gente precisa ensinar para a família”.
Outro aspecto da transição foi
aperfeiçoar a visão, pois é preciso entender que não enxerga e, portanto, tem
que ouvir. “Eu procuro sempre, mesmo nas piores situações, ter minha cabeça
erguida. Mesmo no período de reclusão, mesmo chorando, em sempre confiei muito
em Deus”. E, segundo ela, hoje colhe os
frutos bons dessa fé e determinação.
“Você pode até ter medo, mas se
não desistir transpassa isso“. Segundo Verena, nada a impede e hoje busca uma
vida como antes de perder a visão. A rotina é agitada e autônoma e conta que
sobe e desce de ônibus, em média, quatro vezes por dia. Trabalhando como
telefonista e voluntária do setor de comunicação do Lar das Moças Cegas, esse
ano retomou o curso de Jornalismo. Além disso, frequenta uma academia próxima
de onde mora, em São Vicente, vai à igreja duas vezes por semana e também faz
aulas de informática. “Hoje eu posso falar, sem dúvida nenhuma, que tenho uma
trajetória de sucesso”.
Por Victória Meschini - 8º
semestre do curso de Jornalismo
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