Ana Catarina Flaquer |
O veganismo é um estilo de
vida que elimina da rotina alimentos e objetos de origem animal. No Brasil,
ainda não há número oficiais de adeptos, porém, segundo a Sociedade Vegetariana
Brasileira, a busca pelo termo “vegano” cresceu 1000% entre janeiro de 2012 e
julho de 2016. Aliado a isso, o mercado de produtos veganos aumenta 40% ao ano
no Brasil, demonstrando um crescimento da atenção a essa filosofia.
Há 10 anos a jornalista Ana
Catarina Flaquer, de 33 anos, optou por novo estilo de vida. Sem consumir ou
usar nada de origem animal – como carnes, leite, ovos, couro e até maquiagens
testadas em animas – ela segue o vegetarianismo estrito. Porém, não se denomina
vegana, porque, segundo ela, é extremamente difícil consumir alimentos e
objetos totalmente livres de interferência animal.
“Hoje em dia, infelizmente,
quase tudo que tem no mundo passa ou passou por algum, nem que seja resquício,
de animal para servir o homem”. Ela exemplifica que, no conceito, o vegano não
tomaria cerveja, não por possuir componentes animais, mas porque determinada
marca patrocina rodeios. “Tenho toda uma consciência do conceito do veganismo”.
A decisão surgiu pelo amor
de Ana Catarina aos animais e pela ideologia de não se sentir no direito de
tirar uma vida para alimentação ou uso próprio. “Eu acho que não é justo”,
explica. Defensora da proteção animal, uma somatória de sentimento e reflexões
levou a opção. “Eu pensava: eu resgato cachorro e mato vaca? Resgato gato e
como porco? Não faz sentido. É hipocrisia”.
Para a Ana Catarina, a maior
dificuldade desse estilo de vida não é a minuciosa atenção ao que consome –
seja alimentação ou objetos –, mas porque as pessoas a sua volta não entendem a
opção. Ela conta que é comum o julgamento, como piadas e adjetivada de
exagerada. “Ainda tem uma visão muito preconceituosa desse estilo de vida”.
O desafio, segundo a
jornalista, é mostrar para os outros esse estilo e essa possibilidade. Apesar
de mão impor sua ideologia, Ana Catarina acredita que pode, com o seu exemplo
de vida, ir modificando os outros. “O maior desafio é isso: dar um exemplo para
poder melhorar a vida daqueles que são mortos nesse intuito”. Mesmo com as
restrições de alimentos, Ana Catarina não faz suplementação, por não ser
necessário, em seu caso, para saúde.
Hoje, Ana Catarina está à
frente do Projeto Ajuda Animal. Em abril, largou a carreira de 12 anos de
jornalista e está cursando Medicina Veterinária para se dedicar aos animais. “Porque
eles são minha razão de viver”, define.
NUTRIÇÃO
–
A nutricionista Renata Doratioto Albano,
professora da UniSantos e coordenadora do Ambulatório de Nutrição, explica que
a suplementação depende de cada organismo, podendo, ou não, ser necessária. Como
o vegano restringe todos os alimentos de origem animal, a nutricionista destaca
que se deve ter atenção a alguns nutrientes, como Vitamina B12 (encontrada nas
carnes), Ferro, Cálcio, Zinco, Ômega 3 e Proteína.
Renata Doratioto Albano |
Apesar desses nutrientes poderem
ser encontrados em alimentos de origem animal, isso se dá em menor quantidade e
de maneiras diferentes. Segundo a nutricionista, a proteína vegetal, por
exemplo, não possui o alto valor biológico (com todos os aminoácidos
essenciais) que a animal possui. O cálcio também necessita de cuidados, porque
as bebidas vegetais – como de soja e amêndoas – pode não ter o mesmo
aproveitamento do leite animal.
Renata ressalta que é
importante um acompanhamento nutricional para evitar as doenças carenciais
(quando há deficiência de minerais e vitaminas). “É preciso ficar atento a
essas deficiências caso venham a aparecer”. Mesmo acreditando que uma dieta
saudável deve conter alimentos tanto de origem animal quanto vegetal, ela
destaca a importância do nutricionista respeitar e orientar o paciente dentro do
estilo de vida escolhido, de maneira a chegar o mais próximo do que é
considerada uma dieta equilibrada.
Em caso de crianças, Renata
alerta que a atenção deve ser redobrada, uma vez que se pode restringir
nutrientes importantes nessa fase de crescimento e desenvolvimento. Ela destaca
que o organismo do adulto se adapta mais fácil às mudanças. Portando, a suplementação
não entra no início da dieta vegana, mas sim se houver necessidade.
A coordenadora do Ambulatório
de Nutrição destaca que, como o tipo dos nutrientes são diferentes, não é
possível fazer totalmente uma equivalência entre alimentos de origem animal e
vegetal. “A equivalência nunca vai ser exatamente igual. Porque não é o mesmo
tipo de ferro, não é o mesmo tipo de proteína”, explica. Porém, ressalta que é possível
uma alimentação vegana equilibrada e balanceada, com atenção aos nutrientes e a
uma possível necessidade de suplementos, caso não atinja a recomendação.
Para quem pretende seguir
essa dieta, a nutricionista explica que para incrementar a alimentação vegana, além
de verduras, legumes e frutas, é importante uma dieta com cereais, leguminosas,
óleos vegetais (como azeite), sementes oleaginosas (como nozes e castanhas),
linhaça, bebidas vegetais e tofu. Porém, destaca que mesmo o vegano deve evitar
muito óleo. “Não é porque está comendo coisa vegetal que vai mergulhar no óleo.
Isso também tem que ser excluído da alimentação”, comenta.
Por Victória Meschini – 8º
semestre do curso de Jornalismo
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