A legislação brasileira proíbe a
venda de bebidas alcoólicas para menores de idade, mas na prática, a realidade
é diferente. Matéria divulgada pelo jornal A Tribuna no dia 31 de julho de 2016
mostrou que mais da metade dos estabelecimentos comerciais de Santos, o
equivalente a 55,5%, vende bebida alcoólica para menores de idade. O apelo ao
prazer é característica daqueles que veem no consumo de energéticos e bebidas
alcoólicas uma possibilidade de fugir da realidade, questão que tem evidência
na juventude.
Doutorando e mestre em Educação,
o professor Ricardo Costa Galvanese, do curso de Filosofia da UniSantos, diz
que quando o sentido da existência do indivíduo está ligado à intensificação de
experiências de prazer, é inevitável que a pessoa busque o consumo destas e de
outras substâncias. Para ele, é fundamental colocar em prática a diferença
entre o que é bom e o que é prazeroso, já que nem tudo o que é bom traz prazer
e vice-versa. “Se eu não souber fazer essa dissociação na organização da
existência eu vou ter uma vida medíocre, presa à superficialidade da existência”.
Licenciado em Filosofia, o
professor explica que essa vivência que atribui valor ao prazer, característica
do hedonismo, faz parte da sociedade contemporânea baseada no capitalismo. Outro
fator citado por ele é a busca pela potência máxima, que ocorre quando as
pessoas buscam maior disposição para realizar tarefas, mesmo nos momentos de
lazer. Nestes casos, os energéticos entram como alternativa para estimular o
estado de alerta.
Menores – Jovens estudantes entrevistadas pelo Centro de Informação
sobre Medicamentos da UniSantos relataram consumir bebidas alcoólicas sem
qualquer impedimento. Algumas ainda disseram aderir a medicamentos, mesmo sem
prescrição médica, para aliviar as dores de cabeça causadas pela “ressaca”. Por
se tratar de menores de idade, os nomes utilizados a seguir são todos
fictícios.
Bianca está com 14 anos e
consumiu bebida alcoólica pela primeira vez aos 13, em uma festa. Ela conta que
costuma beber mais aos finais de semana e que já chegou a ficar de “ressaca”
devido ao consumo excessivo de álcool. Para aliviar, disse que tomou um
medicamento para dor de cabeça. “Costumo beber pra ficar doidinha, isso que é legal. Sentir a brisa da bebida. Mas
quando estou com alguma responsabilidade bebo o necessário”. Bianca diz que sua
mãe tem ciência de que ela costuma beber, ao contrário de seu pai, que “nem
sonha”. A jovem conta ainda que sempre toma energético com alguma bebida, como
vodka, whisky ou catuaba.
A estudante Letícia não sente
prazer no sabor de bebidas alcoólicas em geral, mas diz que costuma ingerir
porque o que importa é o que acontece após alguns copos. Ela tem 14 anos e
começou a beber com frequência há aproximadamente três meses. Letícia conta que
já ficou embriagada, a ponto de sentir sonolência e dores de cabeça, por cerca
de seis vezes. “Eu não penso no futuro. Às vezes eu falo que vou parar, sabe?
Mas aí chega na hora e não dá”. Ela diz que seu pai às vezes deixa que ela
experimente alguns goles porque ele prefere que ela beba em casa do que na rua.
“Eu nunca cheguei a comprar, mas muitos amigos meus que são menores de idade
compram numa boa, às vezes umas pessoas maiores compram também”.
Liliane Souza - 6º semestre do curso de Jornalismo
Nenhum comentário:
Postar um comentário