A fumaça do cigarro é constituída
por cerca de 4.000 compostos diferentes, dos quais mais de 200 são tóxicos e
cerca de 40 são cancerígenos. Essas substâncias, absorvidas no pulmão,
percorrem o nosso organismo pelo sangue e, nessa trajetória, podem comprometer
negativamente a atividade de alguns medicamentos.
Uma interação importante é o
efeito indutor do metabolismo de alguns medicamentos, diminuindo a quantidade dos
fármacos que circulam no sangue. Isso acontece porque os medicamentos sofrem
reações químicas, principalmente no fígado, com o intuito de facilitar a sua
eliminação do corpo. Essas reações químicas são mediadas por substâncias denominadas
enzimas, que podem ter a sua ação aumentada ou diminuída dependendo das
circunstâncias. Algumas substâncias inaladas do cigarro são capazes de
aumentar, pelo menos, dois grandes grupos de enzimas hepáticas e que metabolizam
alguns medicamentos, mas não todos.
Medicamentos como antidepressivos
e antipsicóticos são mais afetados, portanto, usuários desses medicamentos
quando deixam de fumar ou retomam a esse hábito podem necessitar de um ajuste na
dose. Em situações como essa, informe ao seu médico para que ele faça o
procedimento que, eventualmente, for necessário.
Um fumante pode vir a necessitar
de uma dose quatro vezes maior de cafeína para obter o mesmo efeito. Por outro
lado, o efeito estimulante da nicotina pode reduzir a ação ansiolítica ou indutora
de sono dos chamados benzodiazepínicos (por exemplo, o bromazepam). Ainda a
nicotina, por seu efeito vasoconstritor, diminui o efeito de alguns
anti-hipertensivos, principalmente aqueles que promovem a vasodilatação. O
efeito da dilatação dos vasos sobre a pressão arterial é fácil de ser
explicada: quando se precisa aumentar o alcance de um esguicho d´água,
aperta-se a ponta da mangueira para aumentar a pressão da água.
Os contraceptivos hormonais (as
pílulas) têm aumentados as suas reações adversas, especificamente
tromboembolismo, acidente vascular cerebral e infarto do miocárdio isquêmico.
Essa interação é tão importante que a pílula anticoncepcional é contraindicada
em mulheres com mais de 35 anos e que fumam mais de 15 cigarros por dia.
Nunca é demais lembrar que o
cigarro provoca graves problemas cardiorrespiratórios e câncer, além de tudo
que foi exposto. Se você não conseguir deixar de fumar sozinho, procure ajuda.
Prof. Dr Paulo Angelo Lorandi,
farmacêutico pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas-USP (1981), especialista
em Homeopatia pelo IHFL (1983) e em Saúde Coletiva pela Unisantos (1997),
mestre (1997) e doutor (2002) em Educação (Currículo) pela PUCSP. Professor
titular da UniSantos. Sócio proprietário da Farmácia Dracena.
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